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Mônica Bittencourt estreia na Bienal de São Paulo com livro póstumo em homenagem a seu pai

Lançamento de “Poesias da Esperança”, obra póstuma de Jair Gomes Martins, promete emocionar os presentes com uma história de resgate, memória e arte

Por Yve de Oliveira

No próximo dia 11 de setembro, a Bienal de São Paulo será palco do lançamento do livro “Poesias da Esperança”, do autor Jair Gomes Martins. A obra é uma homenagem póstuma organizada e ilustrada por sua filha, Mônica Bittencourt, atriz e artista visual guarulhense.

O evento acontece no Estande 17 do Espaço GAEB, das 18h às 22h, e promete emocionar os presentes com uma história de resgate, memória e arte. O livro, uma coleção de poesias escrita por Jair, foi encontrado em um caderno perdido após vinte anos de seu falecimento.

“Quando esse caderno apareceu na minha mão de novo eu não acreditei na qualidade das poesias e o quanto delas tinha do meu pai. A partir desse reencontro, quis dar um presente para ele, como uma filha que, ainda criança, presenteia seu pai com desenhos. Então, foi uma aproximação, um resgate dessa memória de lembrar que meu pai tinha aquela voz de locutor, porque parece que primeira coisa que a gente esquece é a voz da pessoa, por isso falar sobre ele é tão importante”, revela Mônica.

Aqui me tens de volta à vida

As poesias foram ilustradas com aquarela, um material com o qual possui uma afinidade especial. Através das cores, a artista conseguiu transformar a saudade em uma celebração da vida e da memória de seu pai. O resultado é um livro que não só preserva as palavras de Jair, mas também acrescenta uma camada sensível de significado e beleza.

“Durante a elaboração dos desenhos eu lia as poesias e elas mexias muito comigo. Por vezes ficava três dias chorando, então isso foi me levando a conversar com esses textos e tentar traduzir, uma poesia triste, em uma imagem alegre com cores vibrantes. Escolhi ainda me inspirar no céu em maio, na vibração desse azul e rosa que me enchem de amor”.

Mônica completa que no caderno, que servia de preparação para as aulas de física oferecidas pelo seu pai estava repleto anotações de aulas, mas também de desenhos.

Primeiro, foi uma revisita olhar aquele material com olhos mais maduros e pude ver a grande percepção dele sobre a morte. Ela não o assustava. Para ele, a morte significava uma nova vida que ele ia ter logo em breve. Esse tema é muito forte nas poesias dele, é como se estivesse dizendo: “Eu quero deixar um pedacinho meu aqui para vocês”.

Publicado pela Quincas Editora em parceria com a LUY Editorial, o livro como um relicário foi impresso em papel pólen, que confere ao texto um tom de amarelo nostálgico, complementando perfeitamente as ilustrações em tons quentes. Um detalhe especial é a inclusão da caligrafia original de Jair, recriada com cuidado para preservar a autenticidade e a intimidade de suas palavras, registrada em fonte azul criando um contraste visual ainda mais próximo dos originais do autor.

Poesia de quem vai

Jair sempre foi um grande fã de Camões, Augusto dos Anjos e, principalmente, Fernando Pessoa.  Declamava poesias com sua voz de locutor de rádio e gostava muito de ler. 

Foi professor de física e matemática e teve uma grande amiga na escola onde trabalhava, professora de português, Sonia, que partilhava de seu gosto por literatura e poesia.

Sempre gostou de escrever poesias, mas foi em 1990, quando ficou doente, que começou a escrever textos que expressavam sua intimidade. Nessa fase difícil, o encontro com a espiritualidade também o ajudou a suportar as dores e incertezas.

Mônica acrescenta que “Poesias da Esperança” traz uma seleção de músicas queridas por Jair, como Tim Maia, Rita Lee e Ney Matogrosso, proporcionando uma experiência sensorial completa para os leitores.

“Meu pai, gostava muito de música e era comum pelas manhãs que escutasse algum bolero na rádio ou numa vitrola. Ele também gostava muito de viajar. De pegar toda a família colocar dentro do carro com uma barraca de camping em cima, sabe? Me lembro de irmos para o Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e a trilha sonora maravilhosa era Tim Maia. Quando escuto essa playlist já vem um cheirinho de mar, de carro de viagem, das comidas da minha mãe, porque meu pai estava sempre junto com ela”, completa emocionada.

Poesia de quem Fica

Arquiteta, professora de artes e atriz formada pelo Mackenzie, pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e pelo Teatro Escola Macunaíma, respectivamente, Mônica Bittencourt iniciou sua carreira como arquiteta, mas se apaixonou pela arte-educação em 2008, quando foi assistente de direção de teatro, onde fez parte de um projeto com jovens na periferia de Guarulhos.

Além de dirigir e escrever peças de teatro, ela também cria bonecos e desenha cenários. A partir de 2018, Mônica começou a trabalhar com aquarela e, em 2022, ilustrou a capa do livro “Educação de Guarulhos – ressignificando sua prática”. Em 2023, também ilustrou o livro “Todas Elas em nós”, e agora em 2024, “Poesias da Esperança”.

Estreante na literatura, a ilustradora conta ainda sobre sua emoção em realizar sua segunda sessão de autógrafos de “Poesias da Esperança” na 27ª Edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

Eu nunca fui em uma Bienal para vender um livro. Este livro é como um relicário, uma memória viva que espero que toque o coração de todos. Certamente “Poesias da Esperança” é um testemunho do poder da arte de manter vivas as memórias daqueles que amamos”.

Serviço

Lançamento do Livro Poesias da Esperança – Mônica Bittencourt – Bienal do Livro de São Paulo

Quando: 11 de setembro, das 18h às 22h.

Local: Distrito Bienal – Travessa Literária, Estande 17 – Espaço GAEB

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