Prefeitura de Guarulhos tira Maestro Emiliano Patarra da Direção Artística das Orquestras de Guarulhos
Responsável pela criação das duas Orquestras da Cidade, ao longo de 23 anos, o maestro tem sua trajetória marcada pela inclusão da cidade no cenário sinfônico nacional com uma temporada permanente que ocupou lugar de destaque na imprensa segmentada nacional.
Nesta sexta-feira, 7 de março, o Maestro Emiliano Patarra públicou uma despedida pública informando que não responde mais pela direção artística das Orquestras de Guarulhos. No documento ele ressalta que a decisão foi unilateral por parte da prefeitura e que, nos últimos 3 meses, tentou o diálogo sem sucesso com os responsáveis pela pasta. Na cidade desde 2002, Patarra ressalta em seu documento alguns dos feitos que realizou no período, como a realização do Festival de Ópera de Guarulhos (FOG) e o trabalho realizado de forma contínua, em especial, durante o período da pandemia.
Em seu texto ele destaca ainda um alerta para a comunidade musical sobre a fragilidade das ações culturais que duram anos para serem construidas e que gestores “sem conhecimento da natureza do trabalho e sem abrir espaço para qualquer tipo de diálogo” podem por fim.
Veja abaixo a despedida pública do Maestro Emiliano Patarra:
Despedida pública
Caros amigos e colegas músicos, parceiros de batalhas e que compartilham a paixão pela arte lírica, sinfônica, orquestral, peço licença de vocês para uma mensagem longa, mas que acredito ser relevante.
Na noite de ontem, após 3 meses de tentativa de diálogo, e de forma unilateral, sem que, apesar de reiterados pedidos, sequer fosse recebido pelo sr. Secretário de Cultura, fui desligado da Direção Artística do programa das Orquestras de Guarulhos. Com isso se encerram 23 anos de intensa atividade, em que pude ver nascer e crescer um projeto que considero ser encantador.
Através de uma ação direta minha, sempre cercado de pessoas que acreditaram neste sonho, foi possível criar, ao longo desse tempo, duas orquestras sinfônicas, uma de caráter profissionalizante e outra em que atuam músicos profissionais, e desenvolver um programa que, além de realizar em torno de 50 concertos por ano, também se responsabiliza pelo ensino de música nas escolas da Rede Municipal e pela inserção dos jovens estudantes na vida profissional. De 2002 até agora criamos uma estrutura de produção que foi capaz de realizar um Festival de Ópera, dezenas de estreias de obras inéditas, encomendas a compositores, concursos de piano, cordas, sopros e canto, uma série de música de câmara, gravação de álbuns dedicados a compositores brasileiros, apoio a artistas da cidade, espetáculos de balé, shows de música popular, sempre trabalhando com artistas de alto nível em todas as diversas áreas da vida lírica e sinfônica.
Durante o difícil período da pandemia pelo qual acabamos de passar, esse foi o único órgão em toda a Secretaria de Cultura que seguiu em plena atividade, realizando programas de entrevistas ao vivo, publicando gravações, realizando concertos digitais em um ciclo de eventos que atingiu mais de 50.000 visualizações. Face ao inesperado pelo que passávamos, não havia expectativa nenhuma de que esse trabalho fosse realizado, mas toda a equipe envolvida, sob minha coordenação, desenvolveu estas ações por acreditar que o lugar da orquestra é junto do público, em qualquer circunstância.
Infelizmente, esse trabalho está sendo interrompido sem que haja qualquer cuidado com relação à continuidade de todo este esforço. As orquestras são deixadas sem direção artística, sem uma Temporada anunciada, ensaiando para um concerto que não se sabe se será feito, sem segurança da manutenção de suas datas em um Teatro que um dia foi anunciado como sua sede.
Em 23 anos de batalha, certamente terão sido muitos os enganos, tropeços e passos em falso, mas encerro esse ciclo com convicção de ter dedicado todas as minhas forças para a criação deste Programa.
Redijo essa mensagem acima de tudo como um alerta para toda a comunidade musical, sobre a fragilidade de tudo o que empreendemos, um ambiente cultural em que que gestores recém chegados, sem conhecimento da natureza do trabalho e sem abrir espaço para qualquer tipo de diálogo podem pôr fim a algo que levou anos para ser construído. Esperamos que não seja assim, e peço veementemente a cada um que me lê que se manifeste de maneira intensa para que o destino da Orquestra Jovem Municipal de Guarulhos e da Orquestra Gru Sinfônica não seja o simples término por incompetência administrativa.
De resto, aproveito para me colocar à disposição para quaisquer convites profissionais, tanto pela necessidade de viabilizar o dia a dia quanto porque me sobra a empolgação para arregaçar as mangas e continuar construindo Arte, e desbravando novas fronteiras.
Sigamos em frente, é nossa convicção, é o que acreditamos e é o que nos move. Obrigado a cada um que colaborou com essas Orquestras neste período, e perdão por qualquer coisa que possa não ter sido feita a contento.
Obrigado!
Emiliano Patarra
Com Patarra, Guarulhos virou referência na música sinfônica
Emiliano Patarra desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento e consolidação das orquestras de Guarulhos ao longo de seus 23 anos de dedicação. Em 2003, ele fundou a Orquestra Sinfônica Jovem de Guarulhos, atuando como diretor artístico e regente titular desde então. Sob sua liderança, a orquestra não apenas aprimorou a qualidade musical na cidade, mas também serviu como uma plataforma para jovens músicos em fase final de formação, oferecendo-lhes oportunidades de se tornarem profissionais reconhecidos no cenário musical brasileiro.
Além de sua atuação direta com as orquestras, Patarra foi o idealizador do Programa Música nas Escolas, iniciado em 2020. Este programa integrou a educação musical à rede municipal de ensino de Guarulhos, permitindo que estudantes tivessem acesso à formação musical de qualidade desde cedo. Essa iniciativa não apenas democratizou o acesso à música, mas também revelou novos talentos e fortaleceu a cultura local, consolidando Guarulhos como um polo de desenvolvimento artístico no país.
Sob sua direção artística, as orquestras de Guarulhos ganharam destaque nacional, realizando temporadas anuais com programações diversificadas que incluíam desde obras clássicas até estreias de compositores contemporâneos brasileiros. A criação do Festival de Ópera de Guarulhos é um exemplo de sua visão inovadora, trazendo ao público montagens de óperas e contribuindo para a formação de plateias e artistas na região. A saída de Emiliano Patarra representa o encerramento de um ciclo marcado por conquistas significativas, deixando um vácuo na cena musical de Guarulhos e deixando uma incógnita em relação aos futuro das Orquestras e de suas temporadas na cidade.
O que diz a prefeitura?
A Guarulhos Cultural entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Guarulhos para saber mais sobre o desligamento do maestro e como está o planejamento das orquestras para o ano de 2025. Até o fechamento desta matéria, não tivemos o retorno. Caso a Prefeitura venha a se manifestar, atualizaremos este mesmo texto.