A volta da economia criativa
por Vitor Souza
Se você ouve falar de economia criativa e imagina que é só “coisa de artista”, talvez seja hora de rever esse conceito.
De acordo com o relatório Re|Shaping Policies for Creativity da UNESCO (2022), os setores criativos respondem por mais de 3% do PIB mundial e geram cerca de 50 milhões de empregos diretos em todo o planeta. No Brasil, dados recentes do Observatório Itaú Cultural apontam que a economia criativa movimenta R$ 230 bilhões por ano e emprega 7,8 milhões de pessoas, o equivalente a 7% da força de trabalho nacional. É mais do que o setor automobilístico, por exemplo.
Mas a economia criativa não é apenas um número. Ela é a costura entre cultura, inovação, identidade e desenvolvimento. É o design que transforma um produto comum em objeto de desejo. É a música que movimenta uma cidade inteira com um único festival. É o saber tradicional que vira valor de mercado sem perder sua alma. É o audiovisual, o artesanato, a arquitetura, os games, a moda, a gastronomia, os livros, a memória, a tecnologia e tudo o que nasce da capacidade humana de criar com propósito.
Recentemente, o Governo Federal deu um passo simbólico e prático: recriou, por meio do Decreto nº 12.471/2025, a Secretaria de Economia Criativa no Ministério da Cultura, reafirmando a cultura como estratégia de desenvolvimento e colocando novamente a criatividade como ativo de Estado. O Governo de São Paulo, por sua vez, já adota a economia criativa como nome de sua secretaria há anos — sinalizando que o tema ultrapassa modismos e se consolida como política pública.
Mas e Guarulhos?
A cidade já dá sinais de que pode, sim, entrar nesse debate com profundidade. A Mostra de Economia Criativa, por exemplo, valoriza o empreendedorismo sustentável e a cultura local. A Semana do Conhecimento, que reúne estudantes, professores e criadores de soluções, evidencia como a criatividade também mora na educação. A Feira Empreenda Afro impulsiona o afroempreendedorismo como parte vital do ecossistema criativo. O SESI Guarulhos, por sua vez, realiza sua própria Feira de Economia Criativa, com foco na inclusão de famílias com pessoas neuroatípicas. E mais recentemente, a cidade passou a participar do World Creativity Day, maior mobilização coletiva sobre criatividade e inovação no Brasil.
Setores como o teatro, o design, a gastronomia, o audiovisual, a moda, o artesanato e o turismo criativo já têm base instalada no município. Mas ainda falta algo fundamental: uma política pública transversal, contínua e intersecretarial que articule esses talentos, potencialize os territórios criativos e ofereça formação, crédito, incentivo, pesquisa e visibilidade.
A economia criativa não se faz com um único edital. Ela exige visão de longo prazo, integração com educação, trabalho e inovação, e sobretudo, a valorização dos criadores e das criadoras que já atuam nas bordas, nos bairros, nas feiras, nas redes e nos palcos da cidade.
A pergunta que fica é: Guarulhos está pronta para essa conversa?
Talvez sim. Mas só se estiver disposta a entender que cultura é mais do que expressão — é também economia, inclusão, pertencimento e futuro.
