Protagonismo de mulheres negras guarulhenses é foco de projetos fomentados pela Lei Aldir Blanc
Projeto Lídia – Mulheres Guarulhenses e Ewa – Beleza Ancestral são dois projetos contemplados pelo FunCultura – Fundo Municipal de Cultura de Guarulhos, realizados com recursos federais da Lei Aldir Blanc. Ambos os projetos se destacam por colocar mulheres negras, de baixa renda, moradoras da periferia e em situação de vulnerabilidade como protagonistas em ações que focam a habilidade que a mulher tem de se reinventar, mesmo diante de situações extremas como a pandemia ou a própria violência social e doméstica.
Empreendedorismo e geração de renda
O Projeto Lídia é voltado para a necessidade de mulheres que, em meio à pandemia, viram-se sem emprego ou qualquer fonte de renda. Para tanto, oferece cursos gratuitos de artesanato com técnicas de cartonagem e fio náutico para a confecção de caixas de papel cartonado, tecido e colares, e também palestras sobre empreendedorismo e noções de como calcular custos e margem de lucro.
Em suas pesquisas para fundamentar o Projeto Lídia, a assistente social, artesã e empresária Cris Juliari levantou que o percentual de desemprego no Brasil chegou a 14,6%, o maior desde 2012, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Esses números chamaram sua atenção, sobretudo quando ela verificou que as mulheres são as que mais perderam postos de trabalho, 16,8% das mulheres ficaram sem emprego, enquanto entre os homens o índice foi de 12,8%.
Em tempos de crise econômica, agravada pela pandemia da Covid-19, as mulheres são as que mais empreendem no Brasil e logo buscam formas de renda alternativa. De acordo com Cris Juliari, para atingir essa população mais impactada, a seleção das participantes é feita a partir de um recorte racial e de renda, que objetiva atingir mesmo mulheres em diferentes situações de vulnerabilidade, e por isso leva em consideração sua afrodescendência sem deixar de observar aspectos relacionados ao universo familiar.
“O projeto foi elaborado pensando na urgência dessas mulheres, em como fazê-las conseguir gerar renda para manter suas famílias nesse período tão incerto e que não sabemos quanto tempo ainda vai durar. Por isso, não se trata de um curso para atender as necessidades de quem tem tempo livre ou quer ocupar a mente, já que o foco é fazer as mulheres empreender, produzir, gerar renda e, como isso, garantir o sustento de suas famílias”, enfatiza Cris Juliari, que há mais de quinze anos trabalha com instituições sem fins lucrativos no desenvolvimento de ações junto a mulheres de baixa renda, sobretudo as negras, no combate à violência, à solidão e ao racismo.
No universo empreendedor para o qual o Projeto Lídia aponta, a matemática torna-se aliada na projeção de sonhos e ideais de realização. “Com o material oferecido no curso, essas mulheres vão conseguir gerar capital de giro, por exemplo, ao produzir um colar que vale R$60,00. O desafio, então, é vender a peça e gerar recursos que deverão ser investidos em mais matéria prima para a confecção de novas peças, que também deverão ser vendidas, gerando assim mais capital para ser investido”, observa Cris, lembrando que, motivadas, muitas mulheres poderão perceber que é possível partir de outras possibilidades, a partir daquilo que elas desejam e saber fazer.
As inscrições para os cursos gratuitos de artesanato oferecidos pelo Projeto Lídia vão até o dia 8 de março. Para participar as interessadas devem se inscrever pelo e-mail projetolidia1614@gmail.com. Todos os materiais e utensílios utilizados durante os cursos, como tesouras, réguas e colas, serão ofertados gratuitamente às participantes.
Empoderamento e beleza ancestral
Se por um lado o Projeto Lídia atua no empoderamento de mulheres que, em meio à pandemia, viram-se sem emprego ou qualquer fonte de renda, por meio da aprendizagem de técnicas artesanais para geração de renda, Ewa – Beleza Ancestral vai ao encontro da manifestação da beleza da mulher negra e da mulher trans negra. Para retratar toda a força e a beleza da ancestralidade negra, o projeto Ewa – Beleza Ancestral, ensaio fotográfico gratuito a moradoras da cidade de Guarulhos, maiores de 18 anos.
De acordo com Erica Cardial, idealizadora do projeto, além de reafirmar outros tipos de beleza, diferentes do padrão pré-estabelecido, a iniciativa ressalta a diversidade étnica africana. “A ideia é valorizar os traços marcantes e inconfundíveis da mulher negra e da mulher trans negra, a beleza do movimento dos corpos, a delicadeza do olhar, a força dos cabelos e o brilho que suas peles refletem”, explica.
Érica é maquiadora e produtora, especialista em pele negra que desde 2012 trabalha na área da beleza como maquiadora. Ela também desenvolve maquiagem para escolas de samba e atua também com maquiagem para TV, filmes e videoclipes.
Com o Projeto Ewa – Beleza Ancestral, Érica deseja manter aberto o diálogo sobre beleza e sobre o estereótipo de beleza: “Nosso desejo é fazer um trabalho que aborda a ancestralidade, o que significa referendar nossas origens, nosso passado, as sementes de onde germinamos, nossa relação com a África e toda a sua bagagem cultural”.
Pensando em ancestralidade, Érica explica que o conceito de beleza do projeto vem da deusa Oxum, a deusa da beleza, aspecto relacionado à vaidade, saúde, autocuidado. ”O ensaio fotográfico permite que as mulheres possam se ver como elas realmente são, com suas belezas produzidas, naturalizando um olhar sobre a mulher negra de modo a ressaltar sua beleza, indiferentemente de sua cor e do seu tipo de beleza”.
As inscrições para o ensaio fotográfico também vão até o dia 8 de março. Para participar as interessadas devem preencher formulário de inscrição disponível no link http://bit.do/belezaancestral. No momento da inscrição é necessário ainda enviar uma foto de rosto e uma foto de corpo, com tamanho máximo de 5 megabytes para cada arquivo.