Conferência Municipal de Cultura: faltou artista ou esperança?
Na coluna Coleóptero Multimetrificado desta quarta-feira, André Bizorão fala da Conferência que aconteceu no último sábado, evento que reuniu artistas e poder público no Adamastor. “Eu entendo que a Conferência de Cultura é um instrumento de construção coletiva a partir da proposição e da fiscalização de artistas e da gestão, que ao escutar e se relacionar com os “fazedores” da cidade, elabora propostas e metodologias para dar forma às requisições apresentadas, assim, criando possibilidades para o fomento e a fruição da arte local, isso tudo, na teoria”.
Por André Bizorão
Eu entendo que a Conferência de Cultura é um instrumento de construção coletiva a partir da proposição e da fiscalização de artistas e da gestão, que ao escutar e se relacionar com os “fazedores” da cidade, elabora propostas e metodologias para dar forma às requisições apresentadas, assim, criando possibilidades para o fomento e a fruição da arte local, isso tudo, na teoria.
Começo esse artigo me eximindo da culpa de acusador, reverencio e admiro cada um dos amigos e amigas militantes que seguem acreditando na discussão, na construção e no diálogo em encontros como a Conferência, o Conselho e todas as ferramentas criadas para potencializar a Cultura em Guarulhos. Sou verdadeiramente fã de muitas dessas pessoas, como seres humanos e como artistas, mas o meu incômodo com tudo isso é: quando a gente vai poder morar naquilo que estamos construindo?
Eu me ausentei da Conferência, então, meu lugar de fala aqui é a de alguém que não consegue mais acreditar na prática, que se sente condenado a amargar períodos de ‘indigestão’, no qual a Cultura fica sempre jogada no canto, com um orçamento pífio que consegue arcar malemá com a folha de pagamento, que vira a cara para as propostas dos artistas e tantos etcéteras, etcéteras que eu poderia despejar aqui com rancor e tristeza.
Guarulhos é um universo cultural e nós tivemos que nos acostumar a olhar para toda essa imensidão com um daqueles binóculos antigos que continham fotos desfocadas.
Eu não acho que chegou a hora de pararmos de conversar, nós os artistas e a gestão municipal, mas com certeza já passamos da hora de vivenciar: mostras, encontros, formações, trocas, feiras e exposições… Os espaços culturais da cidade deveriam fervilhar de pessoas aos finais de semana com artistas se expressando pelos corredores, pelas salas, no teatro e nos salões. Músicos tocando e passando o chapéu, poetas declamando e jovens dançando…
A Conferência Municipal de Cultura esteve esvaziada, mas a Guarulhos que eu conheço é cheia de artistas e coletivos espetaculares, que criam e se recriam constantemente buscando soluções para resistir e não desistir, tentando encontrar esperança de que esse universo encontre em breve o seu “BIG-BANG” e, com certeza, quando isso acontecer, teremos de fato o que conferir.
É isso! Bisorão!
Esse é o mesmo sentimento que tenho, depois de anos debatendo, conversando, enfim construindo.
E vendo um trator sempre passar por cima dos barracos.
Dar murro na ponta da faca por anos é muito doloroso