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Companhia Bueiro Aberto cria trilha para embalar trama de Rouxinol, novo curta-metragem do coletivo

Inspirado em conto de Renato Queiroz, filme explora temáticas noturnas e conta com músicas que surgem da necessidade de sintetizar a história e as motivações do protagonista

A cena parece bem simples. É noite e uma mulher entra em um bar, caminha até o Jukebox e escolhe uma música. Sob os olhares duvidosos dos demais frequentadores do local, Suzana (Pamela Regina) começa a dançar uma melodia, algo bastante familiar a quem assiste ao filme, do outro lado da tela.  O roteiro de Rouxinol, curta-metragem da Companhia Bueiro Aberto que está em fase de produção, foi construído a partir de inúmeros tratamentos e adequações pelos cineastas guarulhenses Renato Queiroz e Daniel Neves, que além do roteiro, assinam a direção do filme.

De olho na VIII Mostra Guarulhense de Cinema, o curta tem previsão de lançamento no 2º semestre do ano. Realizado em parceria com o coletivo Polissemia, Rouxinol conta com um time de peso na produção, Alexandre Leão e Fernanda Campos no áudio, Marcos Campos e Rafael Vieira na fotografia, Janaína Reis na direção de fotografia, Elisabete Massarelli na direção de arte, Everton Rodrigues na maquiagem, e Pamela Regina, Renato Mendes, Franklin Jones, Mad Rodrigues e Janaína Reis no elenco.

Cinema marginal

Foto: Janaína Reis

Em Rouxinol, Fred (Renato Mendes) encontra pessoas típicas da noite, que o levam a um turbilhão de acontecimentos cada vez mais confusos, absolutamente caóticos. Sangue, sexo, violência, drogas. Sem abrir mão da linguagem do cinema marginal, a história adaptada para as telas tem fortes inspirações no cinema feito por Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, sobretudo na forma de comunicação entre as personagens, sua linguagem e o modo como se envolvem.

“A partir de uma perspectiva freudiana, em que a realização onírica do desejo combina sentimentos como culpa e instintos animalescos, o filme promove um mergulho no inconsciente do personagem, no qual seu superego está sempre em alerta sobre os erros cometidos, e mesmo assim, ele não consegue parar”, esclarece o cineasta.

O filme é inspirado no conto A Noite, escrito por Renato em 2012, e que consta em Nôumeno, seu primeiro livro. “Nesse conto, uma personagem sai pelas ruas do bairro à noite e encontra, dialoga e interage com diversas figuras noturnas, viciados, prostitutas, pessoas em situação de rua, diferentes categorias de pessoas que não são vistas à luz do dia e que têm modos muito próprios de se relacionar com o todo”, explica Renato.

A participação de Daniel Neves na adaptação da história para o roteiro do curta foi fundamental. Esse trabalho resultou em um primeiro roteiro para um longa-metragem chamado O medo da noite, contemplado pelo ProAc e disponível no canal da Companhia Bueiro Aberto, no YouTube. “A motivação para a adaptação da história para o curta busca outras nuances possíveis, o trabalhador que sonha com o horário comercial, absorvido pelo magnetismo da noite que o absorve para aquele mundo noturno”, pontua Renato.

O som do cinema

Foto: Janaína Reis

Na produção musical, a Companhia Bueiro Aberto conta com a expertise de Rodolfo Santana, responsável pelos arranjos das músicas compostas por Renato, incorporando elementos sonoros e camadas para realçar a mistura e combinação de estilos.

Na qualidade de executor e organizador das ideias de Renato, Rodolfo considerou, sobretudo, o aspecto diegético da trilha, quando a fonte sonora é parte de determinadas cenas do filme, tal qual o modo como foram concebidas e idealizadas no contexto do roteiro do filme, para personagens e telespectadores ouvirem, e, portanto, fazem parte da cena.

Além de cineasta, Renato também é contrabaixista. Ontologia da noite, o roteiro de Rouxinol nasce primeiro, antes da música, a partir de temáticas como vontade, violência, desejo, as pulsões de vida e morte, e as relações conflituosas entre esses aspectos.

Rouxinol, a música que dá nome ao curta, surge da necessidade de sintetizar a história e as motivações do protagonista Fred em suas interações. Sua melodia explora elementos com motivos noturnos. A música Suzana, que leva o nome da personagem, surgiu por força do roteiro. Eclética, Suzana gosta de música brega e também de rock. A música reúne elementos de ambos os estilos, e enche de poesia essa preferência.

“Para a música Suzana, Renato mandou duas guias/versões diferentes, a primeira já tinha uma pequena produção, ele colocou baixo, violão, teclado, sugestões melódicas, além dele cantar. Ele também fez algumas sugestões estéticas, enfatizando que a referência era da música brega. Quando ouvi, já me remeteu ao bolero, que tem uma conexão muito grande com a música brega, determinadas estéticas sugerem certos símbolos musicais e movimentos melódicos, então, a criação está muito mais ligada à montagem de um quebra cabeça sonoro do que compor e criar algo do zero”, conta o produtor musical.

A criação da produção musical, segundo Rodolfo, permite a visualização das demais trilhas incidentais do curta, seus símbolos musicais, uma síntese de tudo que foi criado para o curta, em matéria de música.

Já em Rouxinol, as coisas aconteceram de um jeito um pouco diferente, a partir de uma sugestão estética um pouco mais aberta, que permitiu a Rodolfo mais liberdade para criar, tensionar essa estética e fazer sugestões para fugir de clichês, a partir de uma demo que trazia somente voz e o violão. “Ao mesmo tempo que a música sugere algo semelhante ao metal e ao folk, também há elementos de música eletrônica, respeitando a estética do compositor que sugere certo formato”, explica.

A produção musical é fruto de uma parceria recente; porém, bastante respeitosa entre Rodolfo e Renato. Eles se conheceram por intermédio de Caio Fiumari, um amigo em comum, que participou tanto da Companhia Bueiro Aberto quanto da construção do cursinho popular na Escola Estadual Vereador Antônio de Ré, projeto com o qual Rodolfo está envolvido.

“Eu sempre tive esse interesse por cinema, sempre quis aproximar a música do cinema, e agora tenho a oportunidade de contribuir com a produção musical e colaborar com o curta”, diz Rodolfo.

Além de Rouxinol, a Companhia Bueiro Aberto também produziu dois outros curtas com trilhas sonoras compostas para o filme, o curta de ficção Entre Máscaras, de 2017, e o documentário Nós das Ruas, de 2020.

Foto da capa: Janaína Reis

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