Intervenção urbana circense no Bosque Maia propõe trocas de olhares e temperatura entre público e artistas
Atravessando Lugares Nas Ruas, espetáculo do duo de artistas Mano a Mana, usa acrobacias surpreendentes para questionar regras de convivência nos ambientes e nos corpos
Experimentação de espaços inusitados, com investigação de ambientes cênicos, sonoros, de moda e artesanais. No próximo domingo, dia 1º de maio, a partir das 10h30, o Bosque Maia recebe a intervenção urbana circense Atravessando Lugares Nas Ruas, o mais recente trabalho de Mano a Mana, duo de artistas que têm buscado formas de renovar a cena através de técnicas de mão a mão.
Inicialmente criada em formato audiovisual diante da crise sanitária, agora a obra chega às ruas e espaços públicos, em formato de intervenção urbana, com um novo foco: o encontro entre corpos “pós-isolamento”, com trocas de olhares e temperatura, características da presença, junto a um público múltiplo, amplo e profundamente diverso.
“Fazer acrobacias nas ruas é uma coisa completamente nova para a gente. Estávamos bem inseguros antes de estrear…, mas descobrimos que temos uma parceria muito importante: o público! Cada vez mais, no contato com as pessoas, os caminhos se abrem e a gente entende que nosso lugar, mais do que a rua, é o realmente o encontro”, conta Marília Mattos.
O trabalho é um passeio por trilhas urbanas, compostas por ambientes estéticos, sociais e políticos. Diante da inércia que, muitas vezes, toma o padrão cotidiano, a busca é por questionar os hábitos vigentes a partir da exploração acrobática não usual das regras de convivência nos ambientes e nos corpos. A ideia de “possibilitar encontros enquanto atravessa lugares” vem da própria história da dupla. “Desde que começamos a treinar juntos falamos sobre o nosso modo de vida – atravessar a cidade todos os dias, promover encontros, treinos, com nossas mochilas nas costas, fazendo mão a mão por todo canto. Fazer isso na cidade de Guarulhos, agora que estou atuando na Escola Viva com aulas de mão a mão será muito especial”, explica o Dyego Yamaguishi, que começou as aulas no formato online em 2021, e agora atua como educador presencialmente na Escola Viva de Artes Cênicas, no Teatro Padre Bento.
A apresentação itinerante é um projeto realizado com recursos do ProAc Editais, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do governo do Estado de São Paulo, e conta com apoio da Prefeitura de Guarulhos. O espetáculo também integra a programação do Cidadania Ativa, em celebração ao Dia do Trabalhador.
A mochila
Além do mano e da mana, outra personagem em cena é a mochila. Criada por Dodô Giovanetti, com estilização de Diogo Monteiro, a companheira inseparável ganha uma função inusitada; nas costas do mano, a mochila sustenta a mana na travessia, trazendo uma ambiguidade poética: afinal, quantas possibilidades a portagem (técnica circense de suportar o peso de uma ou mais pessoas em situação acrobática) oferece? Ou quantas memórias, afetos, alegrias e tristezas suportamos enquanto atravessamos os nossos mundos conhecido e desconhecido?
A virtuose está presente em acrobacias surpreendentes, mas não como um objetivo final, porque o movimento, nos trabalhos do Mano a Mana, é caminho, percurso; e, nele, o que vale mesmo é a travessia simbólica. É assim, questionando os padrões esperados do circo, que Atravessando lugares NAS RUAS chega ao mundo em forma de convite: atravessar e ser atravessado, também.
A composição conta ainda com a perspicácia da direção de Beatriz Evrard, a sofisticação minimalista dos figurinos de Aline Bartcus e os ambientes sonoros de Craca.
Sobre a dupla
Mano a Mana é o encontro de 15 anos de portagem (tipo de técnica circense em que uma pessoa carrega e lança a outra) com 22 anos de acrobacias (ex-atleta de Ginástica Artística, e posteriormente circense); respectivamente, a trajetória de Dyego Yamaguishi e Marília Mattos. Criado em 2019, o duo, apesar de recente, vem movimentando a cena circense, circulando por cidades, festivais, conquistando prêmios e fomentos, como o Edital de Fomento ao Circo da cidade de São Paulo e o PROAC 10/21; além das criações audiovisuais, repensando padrões de imagem e composição, provocadas pela crise sanitária. Os projetos não se restringem à cena, tanto Marília Mattos quanto Dyego Yamaguishi têm trajetórias marcadas pela educação. Assim como artisticamente têm questionado padrões, buscam trazer ao ensino de circo um olhar pedagógico, pautado pelo respeito às diferenças e às especificidades dos corpos, afinal, como dito anteriormente, para a dupla, movimento é caminho e não fim.
O Bosque Maia fica na Av. Paulo Faccini, s/nº, em Guarulhos/SP.
Foto da capa: Estúdio Sarará Rodrigues