Cultura e pertencimento
por Vitor Souza
Como algumas pessoas sabem, eu nasci em São Joaquim da Barra. Esta cidade fica no interior do estado de São Paulo e, durante anos, sempre tive poucas referências sobre a cidade. Afinal, minha família saiu de lá quando ainda tinha 3 anos de idade.
Para mim, São Joaquim da Barra sempre foi a cidade da soja e o lugar onde Rolando Boldrin nasceu.
A Cultura é parte muito importante daquilo que consideramos pertencimento. Hábitos e costumes comuns divergem entre os grupos sociais. Isto ocorre desde a linguagem, passando pela vestimenta e, naturalmente, chegando às referências.
Ainda é importante ressaltar que ninguém é preso a uma única aldeia. É provável que você ao ler esse texto se lembre das diversas tribos das quais você já participou. Algumas, talvez nem sejam dignas de tanto orgulho, mas certamente foram responsáveis pelo que te formou.
Por outro lado, por ter transitado por alguns locais, sempre me chamou a atenção o fato de que, algumas delas, ainda que não sejam de vontade própria, nos condicionam e acabamos nos reconhecendo.
Ainda que não tenha uma vida dedicada à música sertaneja raiz, ao longo de muitos anos ela esteve lá. Nos churrascos de domingo, na música de fundo do barzinho, na rádio do mercado… Antes que perceba, você está cantando junto com um grupo as canções que foram ocupando seu imaginário.
Acho bonita essa relação, pois ela dialoga com a massa de uma forma muito natural. Não posso falar por outras realidades, pois não as vivi. Mas creio que em algum lugar do Nordeste, um roqueiro encontre um repente no seu repertório emotivo. No Paraná, uma guarânia…
Meu repertório emotivo vai além das minhas escolhas.
Em um mundo em que tentamos reverter o curso do rio para a sobrevivência artística de uma sociedade, observar as questões não efêmeras e que nos fortalecem ajuda a garantir o respeito e iluminar o que é legítimo de uma população.
A culinária é um reflexo das mazelas de um território. É natural que o ingrediente encontrado com fartura em determinado território seja o responsável pelos pratos mais tradicionais. Na música, na literatura, no teatro, na pintura… todas as formas de expressão sempre são reflexos de uma realidade. Podemos expandir. Podemos escolher. Mas a produção cultural é sempre mais eficaz nos bastidores do que o 5G pode captar.
Não gosto da ideia reducionista da Cultura, na qual tentamos encaixar cada território a uma única expressão ou, ainda mais direcionada, a um artista. O fato de Liverpool ser a terra dos Beatles não a torna um terreno de monocultura. Mas apagar essa marca não ajudaria em nada o desenvolvimento artístico da cidade.
Da mesma forma que Guarulhos é sim o lugar de onde os Mamonas Assassinas saíram para ganhar o país, também é a terra de Castello Hansen, Cézar do Acordeon e tantos outros. Valorizar essas memórias garantem que sejamos justos com a trajetória de cada lugar e inspiração para que muitas pessoas possam conhecer e se reconhecer dentro de sua geografia.
Antes que eu me esqueça….
Adeus, Gê… Esse texto segue ainda como uma singela homenagem ao artista Gê Gonçalves com quem tive o prazer de ver a alegria em desenvolver o projeto Sertanejo Bão Demais no CEU Cumbica. Que sua obra e alegria se multipliquem nos corações de todos.
Novo pico da onda: No momento em que escrevo, o país chega perto de 3 mil mortes diárias por conta da Covid-19. Muitas atividades que começavam a se estruturar, ainda sem a presença de público, voltaram a anunciar o cancelamento. Esperamos que todos fiquem bem e recomendo acompanhar em https://guarulhoscultural.com.br/agendacultural/ as atividades sempre atualizadas.
2 > 1 – Hoje se encerram as inscrições para os primeiros membros do Clube do Produtor Cultural. Serão apenas 10 produtores que passarão por uma imersão comigo juntamente com a Deborah Abdala, da Casa de Cultura Zazu de Guarulhos, encontros 100% online e exclusivo acompanhamento para essa primeira turma. Se fizer sentido para você, entre agora para o Clube em http://bityli.com/CPC-ZAZU