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CríticaOpinião

Cinema que me Representa: Ayahuasca- Expansão da Consciência

Documentário com o roteiro e direção de Fausto Noro trata sobre processos de expansão da consciência

Por Fernanda Carvalho

O documentário Ayahuasca- Expansão da Consciência (Brasil, 2018, 59:58 min, livre) conta com o roteiro e direção de Fausto Noro. O filme trata sobre um assunto polêmico, AYAHUASCA, e os seus processos de expansão da consciência. No período de gravação do filme, o documentarista propõe abordar de diversas formas a sua busca particular de curar sua relação com seu pai.

Em uma vivência com o povo Yawanawa do Acre, Fausto Noro apresenta o chá e toda a relação que os indígenas têm com sua cultura milenar, conceitos e crenças que também permeiam a estrutura hierárquica dentro de uma aldeia e o novo vindo e se estabelecendo através da primeira mulher Pajé da aldeia. O roteiro também traz dados estatísticos, profissionais da saúde mental e cientistas que embasam as explicações trazidas pelos indígenas sobre o chá e as experiências vivenciadas pelos que estão procurando se curar das dores do espírito.

Muitos são as controvérsias da temática. Por se tratar de uma substância enteógena, o uso do chá divide opiniões sobre sua eficácia ou se trata-se simplesmente de uma droga que altera a consciência de quem a utiliza. No entanto, Fausto cria a possibilidade dessa discussão e vai estabelecendo bases científicas sobre a importância do chá em sua própria vida e existência e como ele, por sua vez, teve seus caminhos mudados através do contato com os povos da floresta e sua cultura ancestral.

Em meio a imagens de tirar o fôlego, seriedade e respeito a espaços e lugares que os povos indígenas vivem e em contraponto com a cidade e as experiências de Fausto, a fotografia cria uma nova dimensão e nos possibilita embarcar em uma nova atmosfera e até ter percepções de que estamos todos ligados, humanos e natureza e também fazemos parte do mesmo bioma.

Apresentando em movimentos de idas e vindas da história de Fausto e seu pai, o roteiro também estabelece um movimento para as ações que vão acontecendo. Enquanto conta a história do filme, surgem as perguntas: é possível falar com propriedade sobre uma experiência espiritual ou transcendental usando ferramentas da ciência? Como a ciência pode ser aliada para ajudar a compor e contar essa história? Essas questões são tiradas de letra pela direção que, além do verbo, a palavra, traz imagens e possibilidades para respondê-las.

São tantas as questões que vão surgindo ao assistir esse filme, como por exemplo: Os pontos de vista da farmacologia, quais são? Qual a relação do documentarista com as religiões? Qual é o conceito de droga? E tudo isso está a serviço de ajudar a propiciar um encontro, ou melhor, um reencontro de Fausto Noro e seu pai em um espaço íntimo, particular de diálogo e perdão. 

Tudo isso tratado em um filme me faz refletir sobre o ponto de vista das curas diárias que busco, seja através do chá da Ayahuasca, de uma terapia com psicólogo, de um grupo de apoio ou, simplesmente, um ato de coragem de sentar e conversar com aquele que queremos bem. Nessa busca, nos importa reparar qualquer mal entendido para propiciar um futuro mais saudável e tranquilo para nossa relação com os descendentes e como tudo isso reverbera na forma que interagimos com o planeta. 

Realmente é um obra que, além de informar, nos leva a indagações preciosas, que de alguma forma, ou de todas elas, os povos indígenas já sabem muito sobre estes assuntos e também sabem como se curar do corpo e do espírito através da natureza. Ampliar o olhar para esses povos e reconhecer que existe uma sabedoria empírica neles e em na sua forma de sociedade é legitimar o poder e a importância que eles têm e são para o planeta Terra e para o Brasil.

Assista: https://youtu.be/Vb805N9wIcI

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