Coletivo Fotógrafas Guarulhenses apresenta Anuário 2022
Lançamento acontece nesta terça-feira, 8 de março; junção de trabalhos resultou em um conteúdo diversificado, que traduz sentimentos e formas singulares de se relacionar com a fotografia
Dar visibilidade às mulheres na fotografia tem sido o principal objetivo do coletivo Fotógrafas Guarulhenses desde que o grupo surgiu em 2017. Em sua 5ª edição, a iniciativa que já se tornou um marco no âmbito da fotografia abre portas não apenas às mulheres que tiram das imagens seu sustento e o de suas famílias e o fazem profissionalmente, mas também àquelas que têm a fotografia como forma de expressar sua curiosidade, (des) contentamento ou paixão.
Edição especial com tema livre, o Anuário Fotógrafas Guarulhenses 2022 apresentado neste dia 8 de março, data em que a luta de mulheres por condições de trabalho ficou conhecida mundialmente como Dia Internacional das Mulheres, reúne o trabalho de 19 mulheres com perfis, área de atuação, objetos de interesse, percurso e faixa etárias diferentes.
Dessa edição participam Adriana Carvalho, Sunshine Santos, Lúcia Marinho, Leda Lucas, Thaís Andressa, Nadia, Bruna Moraes, Gaby Vieira, Fernanda Ferreira, Rose Battistella, Marta Coutinho, Giulia Martins, Odete Santos, Marisa Quintal, Rosi Canto, Marina Pinto, Janaína Reis, Camila Rhodes e Ana Joana. A junção de seus trabalhos no Anuário Fotógrafas Guarulhenses 2022 resultou, naturalmente, em um conteúdo diversificado, que traduz sentimentos e formas singulares de se relacionar com a fotografia.
Todo o conteúdo do anuário encontra-se disponível em formato digital no site www.fotografasgru.com.br e nas redes sociais do coletivo no Facebook e Instagram.
O efeito de se combinar anseios
O modo como a mulher se relaciona com a fotografia, seu entendimento sobre as imagens, um olhar desmedido e certa intepretação fora do lugar comum são disposições que fogem ao hábito de captura automática do cotidiano, viabilizada pela tecnologia, para instaurar-se no inusitado, no surreal. Em seus cinco anos de atuação, a máxima do Coletivo Fotógrafas Guarulhenses tem sido a luta por igualdade, troca de experiências e conquista de espaços.
O coletivo surgiu em 2017, do desejo de potencializar o trabalho das profissionais, dar-lhes voz, visibilidade. Em 2018, reuniu fotografias de mulheres com trajetórias intrínsecas a da cidade no 1º Anuário de Fotógrafas de Guarulhos. A ação gerou tendência, despertou interesse, mobilização e participação. Nascia ali um movimento que se pretende cada vez maior, mesmo que tamanho, neste caso tão subjetivo, não possa determinar as dimensões exatas do efeito de se combinar anseios.
Em julho daquele mesmo ano veio a primeira mostra e, tal como sugere o nome do mecanismo fotográfico, os trabalhos tiveram tempo de exposição e luz no complexo do Adamastor. Ao longo de pouco mais de 20 dias, a exposição reuniu as fotógrafas Marina Pinto, idealizadora do coletivo Fotógrafas Guarulhenses, Ariel Magalhães, Ane Ari, Aglae D’Ávila, Bianca Mingorance, Camila Rhodes, Cati Vallim, Dayane Mello, Gaby Vieira, Janaína Reis, Jennifer Silva, Júlia Fischer, Jéssica Dayane, Jennifer Gabrielle, Karen Eger, Li Mazzieri, Marisa Quintal, Paulina Riquelme, Renata Nascimento, Rosi Beraldi, Ranielly Bezerra e Tatiane Sabino. A exposição contou também com as fotógrafas convidadas Márcia Pinto e Vera Jursys, que também tiveram seus trabalhos expostos na mostra.
Burburinho de gentes e ideias
O movimento então cresceu, juntou mulheres que até então não se conheciam para além das redes sociais, estudantes, mães, avós e meninas, todas elas com idades, formações e experiências diferentes. Nesse contingente quase nada casual, muitas mulheres iam descobrindo que, mais forte que o elo com a fotografia, suas trajetórias de vida eram reveladoras do quê fotografar, como fotografar, quem fotografar, pra quê fotografar, quando fotografar, onde fotografar.
Em agosto de 2019, esse burburinho de gentes e ideias motivou encontro das participantes do coletivo. Sob o tema Eu Me Amo Como Sou, o evento no Adamastor contou com a exibição de curtas pelo Cineclube Incinerante, filmes independentes dirigidos por mulheres, expôs projetos, incitou rodas de conversa sobre religiosidade, comportamento, maternidade, maquiagem, e muitos outros. E se a paixão pela fotografia foi o mote, os temas explorados abriram um espectro de possibilidades para que artistas de diferentes segmentos pudessem se conhecer e se reconhecer em seus fazeres, em suas lutas diárias, em meio a inúmeras descobertas.
Todo o encontro foi registrado pela Companhia Bueiro Aberto que, em 2020, lançou o documentário A Roda das Histórias, dirigido por Janaína Reis, e que tem como tema as histórias contadas pelas mulheres participantes do evento.
Se por um lado a proposta inicial do coletivo era criar um Anuário Digital, por outro, o alcance da iniciativa extrapolou as expectativas, agregou dezenas de mulheres com trabalhos de diferentes linguagens e experiências fotográficas diversas. Em setembro, o resultado se materializou em uma nova exposição, dessa vez com 80 imagens e intitulada Universo Feminino, com outras participantes e mais ideias.
Ninguém solta a mão de ninguém
O ambiente de positividade, criação e realização que normalmente paira sob as exposições de repente foi quebrado. Semanas após o início da mostra no Adamastor, pessoas que circulavam pelo espaço sentiram-se incomodadas com imagens registradas pela fotógrafa Janaína Reis durante as manifestações do coletivo Mulheres Unidas Contra Bolsonaro, em 2018. A Prefeitura decidiu, então, remover as imagens alegando que o espaço público é inapropriado para manifestações de cunho político. A visibilidade que não se quer ter, de ter seu trabalho atacado, preterido, removido, foi pauta na grande imprensa, da Globo à Folha de S. Paulo. Face ao terror que se avizinhava, a ação não calou o coletivo, não é possível mais encarcerar ideias, ninguém soltou a mão de ninguém.
Em 2020, a pandemia impactou de maneira arrebatadora os ânimos, cancelou eventos, projetos, colocou as pessoas em sinal de alerta e diante da morte. Meses mais tarde, o balanço daquele momento adverso e cheio de dor resultou em números assustadores, foram mais de 630 mil vítimas do negacionismo, do descaso, da falta de planejamento.
A resposta do coletivo Fotografas Guarulhenses foi a realização da terceira edição do anuário e da exposição virtual Fotógrafas Guarulhenses 2020. O histórico e reconhecimento de luta do coletivo gerou desdobramentos e participações em lives, entrevistas, cursos de fotografia, fóruns de debates e exposição de fotos no TEdXMacedo.
Dor, memória e luta
Das milhares de vítimas, a Covid-19 levou Araci Borges, entusiasta e apoiadora das artes e da cultura guarulhense, servidora pública que coordenava o Arquivo Histórico de Guarulhos. Tomadas por dor e sensibilidade extremas, as participantes do coletivo decidiram homenagear Araci Borges na exposição Fotógrafas Guarulhenses 2021 com o tema Memórias do Olhar, uma provocação às fotografias documentais, jornalísticas e históricas, linguagem à qual Araci habituou-se a lidar.
O coletivo, que não cessa de se reinventar, celebrou seu aniversário de cinco anos com o lançamento de Ellas em Foco, ação que promoveu a realização de ensaios fotográficos gratuitos e arrecadação de absorventes para serem doados para mulheres carentes e em situação de rua.
O 5º Anuário Fotógrafas Guarulhenses, lançado neste mês de março, é a demonstração de que as ações têm grande impacto social, geram frutos, lutas, conquistas, transformações, e são possíveis por meio da força do coletivo, das pessoas que dele fazem parte, sua energia, inventividade e uma habilidade extraordinária de reunir, unir e traduzir toda a inquietação em forma de imagens.
Foto da capa: Janaína Reis