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Concerto da Banda Sinfônica de Guarulhos é diversão musical

Execução ofereceu sonoridade convincente, notadamente no tutti e fortissimo, naturalmente, e tanto por competência do regente quanto por sua familiaridade com o grupo, é capaz de nuances delicadas e de dinâmicas claras e bem construídas

Por Luiz Serrano

O espetáculo John Williams in Concert, da Banda Sinfônica do Conservatório Municipal de Guarulhos, que  sob a regência do Maestro Marcelo Mendonça aconteceu na última quarta-feira (23), no Teatro Adamastor, foi um passeio breve e divertido por trilhas de forte valor emocional do cinema estadunidense.

Sem o compromisso estrito de realizar um concerto formal, a banda – que mescla em sua formação músicos profissionais, amadores e estudantes, tem pontos frágeis, especialmente no que diz respeito a afinação, tempo e articulação; a média de execução, porém, oferece sonoridade convincente, notadamente no tutti e fortissimo, naturalmente, e tanto por competência do regente quanto por sua familiaridade com o grupo, é capaz de nuances delicadas e de dinâmicas claras e bem construídas. O destaque positivo é o naipe de clarinetes, que soou bem ao longo de todo o concerto, além dos metais graves e das musicistas das cordas, que especialmente no tema de Tubarão (1975), deram corpo e densidade à música do conjunto.

Foto: Nicollas Ornelas/PMG

O trabalho formativo do maestro é bastante nítido em duas dimensões: entre o conjunto,  Mendonça conduz com bom senso e traquejo, corrige erros de tempo e entrada, e demonstra tanto versatilidade para lidar com músicos de níveis diferenciados quanto tolerância e bom humor nos momentos em algo sai errado, como na execução do tema de Jurassic Park, em que um dos saxofones tocou sozinho uma nota forte logo depois do acorde final, e o maestro brincou com a plateia, lembrando que no filme há sempre um dinossauro que escapa; em sua relação com a audiência há também a preocupação com a formação de público: ele contextualiza as peças, apresenta os naipes, traz para o público a reflexão a respeito do papel da música no cinema e é simpático, o que para um regente é sempre uma virtude importante.

O público, em sua maioria composto por familiares ou congregados dos músicos, porém, parece mais interessado em captar imagens com seus celulares – muitos deles acesos ao longo de toda a apresentação – do que em apreciar a música; mas isso acaba por contribuir para o caráter informal da apresentação: nos momentos mais conhecidos a plateia cantarola os temas e solta gritinhos; tais reações, que poderiam ser bastante enervantes em um concerto propriamente dito, no contexto festivo da banda sinfônica parecem manifestação de coisas positivas, uma delas o entusiasmo pela arte, outra o orgulho por seu conhecido, lá no alto do palco – é compreensível.

O repertório também é selecionado para causar tal frisson, e atinge bem seu objetivo: na primeira parte a banda executou as trilhas de Superman (1978), Tubarão (1975) e Jurassic Park (1993); como um intermezzo, o regente propõe um desvio em relação ao contexto do concerto, e executa a emblemática trilha de The Good, the Bad and the Ugly (O Bom, o Mal e o Feio – no Brasil chamado Três homens em Conflito, filme de 1966), composta por Ennio Morricone – um agradável respiro na forma composicional caricatamente hollywoodiana de Williams; o retorno ao compositor homenageado vem com a trilha de Indiana Jones (1981) – possivelmente a peça mais bem executada ao longo da noite, especialmente no trecho do sensível tema de amor – e se encerra com o momento esperado por toda a plateia, a execução da trilha de Star Wars (1977), que mesmo com suas dificuldades intrínsecas de articulação para os metais e a percussão, alcançou na execução da banda uma massa sonora suficiente para empolgar o público – foi também o bis. Os arranjos são cuidadosos e a orquestração é bem feita, embora tenha faltado a informação sobre a autoria.

À parte alguma fraqueza instrumental, vale ressaltar a importância da existência do conjunto para os estudantes do Conservatório, assim como para a formação de público – papel que um grupo como esse, com forte apelo popular, desempenha muito bem para a cultura da cidade de Guarulhos. A melhor dica para apreciar adequadamente é pensar em uma festa musical, e quem sabe até preparar uns gritinhos, para acompanhar os trechos mais conhecidos.

Fotos: Nicollas Ornelas/PMG

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Luiz Serrano é mestre em filosofia da arte pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), comunicador, crítico musical e aluno do Conservatório Municipal de Guarulhos

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