Prefeitura de Guarulhos reduz repasse e Circo-Escola Cidade Seródio pode ter corte de quase 50% no atendimento
Comunidade denuncia risco de fechamento, artistas se mobilizam e abaixo-assinado pede reversão imediata da decisão
O Circo-Escola Cidade Seródio, referência cultural e social há mais de três décadas na região do São João — uma das áreas classificadas pela própria Prefeitura de Guarulhos como de alta vulnerabilidade social — enfrenta novamente uma situação preocupante. Na última semana, a Secretaria de Desenvolvimento Social, Proteção e Defesa Civil reduziu o repasse anual destinado ao projeto para 2026, medida que deve cortar quase 50% do atendimento prestado a crianças, adolescentes e adultos da comunidade.
Segundo apuração do Guarulhos Cultural, o Circo-Escola, mantido pelo Instituto Criança Cidadã (ICC), atende hoje 207 crianças e 100 adultos. Com a redução proposta pela prefeitura, o número de vagas cairá para apenas 150 crianças e 50 adultos dentro do Programa de Proteção Social Básica — um impacto que ameaça o funcionamento de atividades essenciais de arte, cultura, esporte, acolhimento social e fortalecimento de vínculos.
A instituição já apresentou um novo plano de trabalho para garantir o funcionamento mínimo e encaminhou à Secretaria de Assistência Social um pedido formal de esclarecimentos sobre os critérios utilizados para o corte. Até o fechamento desta edição, não houve resposta oficial.
Projeto histórico em risco em um dos bairros mais vulneráveis da cidade
Inaugurado em 1989, o Circo-Escola Cidade Seródio se consolidou como porta de entrada para a arte e a cidadania na periferia de Guarulhos. O espaço oferece gratuitamente atividades de circo, dança, teatro, literatura e esportes, recebendo crianças e adolescentes encaminhados principalmente pelos CRAS São João e Santos Dumont.
Para adultos, o projeto mantém iniciativas de formação e geração de renda, como Cozinhando com Arte, Colcha de Retalhos e Colocando sua Marca, que atendem cerca de 100 pessoas entre 18 e 59 anos.
A unidade é a única sede do ICC fora da capital paulista e, ao longo de sua trajetória, contou com apoio de empresas, editais e parcerias públicas.
Histórico de cortes e instabilidade
Esta não é a primeira vez que o Circo-Escola sofre com redução orçamentária. Em 2018, também no primeiro ano da gestão do prefeito Guti, o ICC enfrentou um corte de 30% em seu repasse — medida que, naquele ano, atingiu todos os parceiros da pasta. A redução resultou em protestos da comunidade, queda de vagas de 450 para 200, demissões e suspensão de parte das atividades. Na época, a prefeitura afirmou que o ajuste atendia a uma recomendação do Ministério Público. A situação ganhou repercussão em veículos da capital, como registrado no link: https://globoplay.globo.com/v/7238839
Agora, em 2025, o corte volta a atingir o Circo-Escola, mas não se trata de uma medida generalizada. Segundo apuração, a redução ocorre de forma caso a caso. A prefeitura, porém, não esclareceu quais foram os critérios adotados nem por que o Circo-Escola da Cidade Seródio — localizado justamente em uma das regiões mais vulneráveis da cidade — foi afetado.
Mobilização cresce: vídeos, postagens e abaixo-assinado pressionam prefeitura
Um vídeo gravado por educadores e participantes — enviado à reportagem — denuncia o risco de enfraquecimento do projeto e alerta para o impacto direto sobre crianças e jovens. Veja o vídeo: https://www.instagram.com/p/DSCxWKQjlti/
No Instagram, a página Cidade Seródio publicou uma postagem de alto engajamento afirmando que o corte pode levar o projeto a fechar as portas “já na próxima semana”. A publicação alerta para um cenário de “jovens sem apoio”, “crianças sem atividades” e “comunidade desamparada”, e convoca os moradores a pressionar autoridades. Acesse: https://www.instagram.com/p/DR51P2aDUkG/?igsh=cmczcm1xd3hjeXBy
Além disso, um abaixo-assinado intitulado “Salvar o Instituto Criança Cidadã em Guarulhos”, criado por Tamires Rodrigues, pede a reversão imediata do corte. O documento afirma que a decisão “coloca em risco o futuro de dezenas de crianças e adolescentes” e reivindica a restauração total do repasse. Conheça a petição:
https://c.org/9dqt86y9H5
Impacto direto: menos atendimento, risco de demissões e vulnerabilidade ampliada
Caso o corte seja mantido, dezenas de crianças e adultos poderão ficar sem qualquer alternativa de atendimento em um território já marcado por altos índices de vulnerabilidade social.
Educadores alertam para o risco de demissões e perda de equipe técnica — fator crítico em projetos que dependem de trabalho contínuo para garantir proteção e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.
Moradores também temem que, sem atividades regulares, crianças e adolescentes sejam expostos novamente a situações de risco, como violência, tempo ocioso nas ruas e evasão escolar.
Prefeitura ainda não se posicionou
Até o momento, a Secretaria de Desenvolvimento Social, Proteção e Defesa Civil — chefiada pelo secretário Henrique Rocha Menezes, responsável pelos repasses — não apresentou justificativa oficial nem esclareceu os critérios que levaram à redução.
O Guarulhos Cultural permanece em contato com a Subsecretaria de Comunicação da Prefeitura de Guarulhos e atualizará esta matéria assim que houver posicionamento.

