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Opinião

Dar voz ao que é bom

Por Vitor Souza

Existem alguns assuntos que têm maior influência em nosso comportamento social. Gostamos de curtir e acompanhar aquilo que desejamos. Temos uma força enorme que nos move para compartilhar aquilo que odiamos. Desejo e terror são sentimentos mobilizadores. Dar voz ao que é bom garante que a transformação que desejamos comece a acontecer.

Em uma palestra bastante rica durante um TED Talk chamada com o tema “A Maneira como pensamos caridade está totalmente errada“, Dan Pallota mostra o quão equivocada é a nossa leitura social no desenvolvimento de práticas que promovem o bem-estar social:

Nós reagimos de forma radical à ideia de que alguém está fazendo muito dinheiro ajudado como outras pessoas. Interessante que não reagimos dessa forma à ideia de que pessoas ganhariam muito dinheiro sem ajudar ninguém. Se você quer fazer 50 milhões de dólares vendendo jogos de vídeo games violentos para crianças, vá em frente. Mas se você quer ganhar meio milhão de dólares tentando curar crianças com malária, você é considerado um parasita.

Dan Pallota

Gosto de começar qualquer formação com essa fala por conta da sua clareza em desmistificar um grande problema das artes. A sociedade compreende que o artista faz o que gosta e, portanto, a remuneração é algo secundário… Ou ainda, observando que a pessoa faz algo de positivo para a sociedade, ela apenas busca sua autopromoção, e que portanto a visibilidade assume papel de moeda para o árduo trabalho artístico.

Dar a voz ao que é bom é um exercício de desprendimento de muitas ideias previamente estabelecidas e que convido você a repensá-las agora.

Queremos um mundo melhor?

Não pense no automático pois o mundo não vai melhorar como uma votação no stories de alguém. Queremos significa estar disposto a todo o esforço que transformar o mundo em algo melhor vai exigir. Estamos dispostos, antes de tudo, a escutar o outro?

Saber se o que está sendo dito é o mesmo que já foi dito antes, ainda que nunca tenha escutado. Ou verificar algo inovador em meio a uma frase que praticamente se compreende como um ditado popular.

Não se trata de apenas cada um fazer sua parte porque, se cada um faz o seu, alguém junta tudo e define o nosso… É preciso articulação e, de novo, será que estamos dispostos? Temos terror de manter a vida como está ou apenas desejamos um mundo mais justo? Essa é a diferença que define o nosso pensar…

Precisamos valorizar aqueles que fazem o bem. Quando a gente considera que todos são iguais, somente os que estão certos, os mais necessitados, todos que contam com você, são prejudicados. Toda generalização é uma simplificação e serve para agilizar a forma como compreendemos o mundo. No entanto, se queremos mudar, vamos precisar separar quem ajuda e quem faz mal a todo o sistema.

E como apoiar?

Cada um tem sua causa. Infelizmente tivemos um cenário terrível até agora. Eu escolhi me desenvolver no cenário cultural para garantir o desenvolvimento do mundo, unindo a cidade através da cultura e garantindo que artistas, cidadãos, governo, investidores e todos os demais agentes culturais possam encontrar entre si a melhor e mais harmoniosa relação.

São muitas as plataformas que atuam na cultura. Assim como são inúmeros os profissionais que dedicam sua vida ao desenvolvimento artístico cultural. Ampliar a voz de atividades que são positivas é o caminho que encontramos para garantir que esses artistas que apesar de todo o cenário estão desenvolvendo o conteúdo que conversa com a realidade é fantástico e fundamental.

É preciso ser combativo com o que está de errado no mundo. Mas é preciso na mesma intensidade garantir o a luz ao que é feito para transformá-lo. Nossa voz é sempre inspiração para alguém. Quando mostramos o caminho que estamos construindo, isso fortalece também desejos positivos em outras pessoas.

Não olhei os nossos pecados

Um de meus trechos favoritos do missal romano, com o qual realmente me conecto, diz “Não olhei os nossos pecados mas a fé que anima a vossa igreja”. Nesse domingo de Páscoa (dia em que publico esse texto), retomo esse ponto como um grande exercício de empatia coletiva em especial ao nosso setor.

Sempre encontraremos problemas pois é humana a nossa construção. Mas para seguirmos em frente, precisaremos muitas vezes parar de ficar achando a coerência para a garantia da boa ação. Diminuir o fogo amigo para que não sejam desperdiçados os esforços contra quem luta a mesma batalha.

Acredito que o mundo pede uma postura diferente, onde possamos nos fortalecer e inovar na maneira de pensar a cidade, a economia, a política, a educação e tantas outras áreas de conhecimento humano. Se olhamos para o passado, vemos o quanto esses pensadores estavam alinhados ao campo das artes. Me parece uma boa pista.

*A imagem ilustrativa do texto “dar voz ao que é bom” é de Edu Lauton, disponível em Unsplash

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