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Diego Dionísio traz sabor e afeto com culinária e música caipira ao Arraial Guarulhos

Evento se caracterizou como um espaço caipira onde o patrimônio histórico foi reconhecido, valorizado e vivenciado

O Arraial Guarulhos deixou muitas imagens cativas e coloridas na memória das mais de 30 mil pessoas que aproveitaram a programação artística e gastronômica no Esporte Clube Vila Galvão no último final de semana. Em sua 5ª edição, o Arraial Guarulhos, idealizado pelo jornalista, folclorista e produtor cultural guarulhense Diego Dionísio, é resultado da dedicação de mais de 25 anos às raízes da tradição caipira na cidade.

“O Arraial Guarulhos é mais que uma festa junina; é um grande encontro de memória, de receitas tradicionais de avós, experiência na qual é possível se relacionar afetivamente com a comida, com o movimento quadrilheiro, com os violeiros, sanfoneiros e forrozeiros que existem tanto na cidade quanto em todo o estado de São Paulo”, disse Dionísio. 

Nesse universo cultural, que combina ao mesmo tempo manifestações nordestinas e caipiras, a memória afetiva ganha prosa nas rodas de conversas em que o assunto são as lembranças de criança, afinal, é impossível deixar de rememorar momentos em família, quando os vizinhos se reuniam em torno da música, da comida, da fogueira e todos contribuíam com um prato festivo.

Mesa compartilhada

Ao longo dos três dias e cerca de 30 horas de festa, mais de 100 culinaristas ofertaram ao público culinária diferenciada, um festival de cores e sabores com cerca de 100 receitas tradicionais de mais de 50 cidades do interior e litoral paulista. Produzidas ali mesmo, em fogões a lenha e tachos, as delícias das culinárias caipira e tropeira trouxeram para o Arraial Guarulhos o conceito de slow food.

“Slow food é a comida feita no fogão à lenha, no seu tempo; a mesa é compartilhada como nas festas de cultura popular, nas folias de reis e festas do divino, onde tem dança, tem comida e tem encontro”, enfatizou Dionísio”. De acordo com o folclorista, a comensalidade, segundo a qual o convívio  à mesa envolve não somente o quê se come mas, principalmente, como se come e com quem se compartilha o alimento, é o grande motivo de celebração do Arraial Guarulhos.

O resultado desse compartilhamento de saberes foi saboreado nos ranchos, com virados, afogados, galinhadas, feijão tropeiro, farinha de mandioca, paçoca de carne, bolo de Roda, requeijão de prato e linguiça caipira. Dentre os culinaristas, merece destaque a expertise das mãos de Maria Lúcia Bezerra, que veio de Cruzeiro, interior paulista, trazendo variedade de doces caseiros, bolinhos caipiras, broas, pamonhas, bolos e café caipira. “Esse bolinho caipira você não encontra em qualquer barzinho ou restaurante, ele é de uma receita tradicional de Jacareí, que aprendi há muitos anos e preparo com muito gosto”, explicou Dona Lúcia.

Na ótica do patrimônio cultural e imaterial, o Arraial Guarulhos atua em duas frentes para a salvaguarda e continuidade das tradições. Ao trazer as quadrilhas e artistas, a festa destaca aquilo que é tangível, mas também ressalta aspectos intangíveis com os culinaristas da cidade e do interior, pessoas que, como Dona Lúcia, estão ligadas à continuidade das tradições, manifestações e patrimônio. “O Arraial Guarulhos é um espaço caipira onde o patrimônio é reconhecido, valorizado e vivenciado”, enfatizou Dionísio.

Impossível não se emocionar

Dentre os mais de 400 artistas da programação artística do Arraial Guarulhos, os guarulhenses marcam presença com apresentação da sanfoneira Vera Bianca, apresentadora do programa Café, moda e viola, o Quarteto Raiz, que agita a cidade com repertório caipira, e a inesquecível Orquestra de Violeiros Coração da Viola, que promete animar a festa com os saudosos clássicos sertanejos.

“Quem esteve no Arraial Guarulhos levou um pouco de nossa história e tradição, e foi contagiado com a emoção, vi pessoas chorando copiosamente na minha frente e isso acaba emocionando a gente também”, disse a sanfoneira Vera Bianca, que desde a primeira edição do Arraial Guarulhos em 2017 reúne os violeiros em rodas de viola saudosas e cheias de clássicos caipiras.

O evento também trouxe ao palco a Orquestra de Viola Sarabaque, de Carapicuíba, e o Grupo Orgulho Caipira, de Lagoinha, interior paulista, e os grupos de forró Trio Jaçanã e Trio Amizade.

Sobre as quadrilhas juninas, Dionísio também enfatizou o trabalho realizado pelos oito grupos quadrilheiros convidados, que nos últimos seis meses se dedicaram a bordar e confeccionar os figurinos com plenitude de cores, composição de repertório sobre os mais variados temas e ensaio de performances inusitadas, que extrapolam o imaginário popular e transformam a apresentação em um megashow de sensações para os olhos, corações e ouvidos.

“Estamos construindo uma história, uma nova imagem da cidade, e por conta desse movimento grandioso, em que os grupos de cultura popular crescem e se multiplicam, a 5ª edição do Arraial Guarulhos recebe duas quadrilhas que acabaram de nascer, resultado de uma tradição que não extingue ou elimina, mas que, ao dividir, se transforma em várias manifestações”, explicou Dionísio, observando a importância do evento como forma de resistência às tentativas de apagamento da cultura popular em diferentes épocas, espaços e contextos.

Em meio a toda a festa das quadrilhas-show, Dionísio destacou ainda a participação da Quadrilha de Bonecões da Mantiqueira, presente no Arraial Guarulhos desde 2017, a única em que os bonequeiros conseguem fazer passos de dança coreografados. 

A experiência que torna o Arraial Guarulhos uma festa ímpar demonstrou também um trabalho realizado por muitas mãos e muitos corações, que não economizaram energia para tornar possível a grandiosidade de mais uma edição. Vida longa ao Arraial Guarulhos!

Foto da capa: Rafael Berezinski

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