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Dó, Ré, Mi, Fáusto: livro é dedicado aos músicos anônimos que transformam a arte em vida

Paixão do cartunista Fausto Bergocce pela música inspira obra que mistura ilustração e poesia

Por Carla Maio

“Do choro ao sarro, do samba ao be-bop, nenhuma nota destoa no traço terno e musical de Fausto”. Carinhosas e assertivas, as palavras do jornalista e escritor Luís Pimentel somam-se à ilustração do maestro Aldir Blanc no prefácio de Dó, Ré, Mi, Fáusto, último lançamento do cartunista e ilustrador Fausto Bergocce (Editora Criativo, 2020, 2ª edição). O livro, lançado durante o período de pandemia, reúne ilustrações, cartuns e charges que têm como referência a música e é dedicado aos músicos anônimos que transformam a arte em vida.

“Pedi para meu amigo Luís Pimentel, parceiro de trabalho no Jornal Mais Humor, a única publicação de humor impressa hoje no país, para fazer o prefácio de Dó, Ré, Mi, Fáusto. Ele abriu o texto falando do Aldir Blanc, seu amigo pessoal, que tinha acabado de falecer, e isso motivou a ilustração do prefácio, uma homenagem a esse grande compositor, a quem todos nós admirávamos muito”.

O encontro de grandes nomes da música nordestina, como Luiz Gonzaga e Dominguinhos, da música americana, Michael Jackson e Chuck Berry, do samba, Cartola e Adoniran Barbosa, referência a grandes compositores e intérpretes, como Rita Lee, Louis Armstrong, Dorival Caymmi, Beethoven, Belchior, Inezita Barroso, Moraes Moreira, Amy Whinehouse, a presença cômica de animais como galos, zebras e pássaros nas mais diversas situações musicais, a referência a músicos anônimos, maestros, instrumentistas de orquestras, músicos de rua e um sem número de ocasiões em que a música é protagonista recheiam as páginas de Dó, Ré, Mi, Fáusto. “Os músicos de rua também serviram de grande inspiração. Toda cidade aonde vou, presto muita atenção aos músicos que tocam nas ruas, acho fantástico porque são eles que levam a arte para as pessoas”.

Para muito além das palavras, a habilidade de Fausto Bergocce em lidar com a poesia criada a partir dos traços do nanquim presenteia o mundo da música com a liberdade de seus traços. Neto de maestro, Fausto Bergocce veio ao mundo por causa da música.

“Meu pai era um jovem muito tímido, ele era ferreiro e ajudava o pai dele. Meu avô materno, Eugênio Ramos de Oliveira, era um maestro famoso da cidade, ele criou a banda de música de Reginópolis, e tocava nos bailes da cidade. Naquela época, meu pai tocava trombone de vara e fazia parte da banda do meu avô. Ele já estava de olho na minha mãe, uma jovem muito bonita, e queria namorar com ela, mas como ele era muito tímido, ele não conseguia chegar nela. Como as duas famílias eram muito amigas, meu avô gostava muito do meu pai, via que ele era um rapaz esforçado, bom músico, então, ele decidiu dar uma força para ele namorar e se casar com minha mãe”.

Apesar dessa herança e de ser um ouvinte costumaz, a música nunca foi o forte de Fausto, e isso explica as inúmeras homenagens que o cartunista faz aos músicos ao longo de toda a sua trajetória. “Todo o meu trabalho como cartunista é um caldo de cultura e conhecimento, de todos os livros que eu li, dos programas de rádio que ouvi, dos filmes que assisti, das viagens que fiz, das conversas que tive como as pessoas, tudo isso transferido para as charges, cartuns, ilustrações e caricaturas”.

Fausto, o provocador de sorrisos

“Eu sou um provocador de sorrisos, todos os riscos são por minha conta”, brinca Fausto em meio a gargalhadas e mais gargalhadas. Radicado em Guarulhos desde 1966, Fausto Bergocce nasceu em 18 de novembro de 1952, em Reginópolis, há cerca de 405 quilômetros de São Paulo. Para presentear a cidade que sempre o acolhe com carinho quando a saudade fala mais alto, Fausto ilustrou Reginópolis – sua história (Editora Kalaco, 2011), lançado em parceria com Henrique Perazzi de Aquino. Na combinação de textos e ilustrações, a obra conta a história da cidade e revela seus pontos históricos e turísticos.

No bate-papo com Fausto Bergocce, as memórias ilustram passagens importantes do jornalismo paulistano. Ele colaborou como ilustrador, desenhista de quadrinhos e chargista na Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário do Grande ABC, editora Três, TV Cultura e em várias publicações do movimento sindical durante o período de resistência contra a ditadura militar imposta com o golpe de 1964. Em 1972, Fausto Bergocce começa a trabalhar no Diário de Guarulhos.  Em 1974, ele é contratado como arquivista do jornal Guaru News, passando para a redação como ilustrador. Trabalhou ainda na Última Hora, de 1976 até seu fechamento em 1979. Fausto entrou para o Diário Popular em 1986, contratado para ilustrar o evento da Copa do Mundo no México, e saí no final de 2003, dois anos depois do jornal ter se tornado Diário de São Paulo.

“Quando a marca Diário Popular deixou de existir, ela tinha 117 anos, era um jornal centenário. O jornal O Estado de S. Paulo nasceu em 1884 com o nome de A Província de São Paulo e foi fundado por três jornalistas: Américo de Campos, José Maria Lisboa e um outro do qual não me lembro o nome agora. Um desses fundadores, o José Maria Lisboa, fundou o Diário Popular. Em 2001, as empresas Globo compraram o jornal Diário Popular, e como eles tinham ojeriza pelo nome ‘popular’, eles decidiram mudar o nome para Diário de São Paulo, um dos maiores erro de comunicação já cometido. O Diário Popular vendia mais de 200 mil exemplares por dia, números jamais alcançados pelo Diário de São Paulo, as vendas foram caindo, a Globo vendeu e logo ele encerrou suas atividades”.

Fausto conta que a Ditadura militar foi um período difícil para a imprensa e ele próprio encontrava-se nessa roda viva entre 1974 e 1985. “Eu me orgulho de nunca ter feito autocensura, tudo o que eu produzia eu mostrava ao editor, que analisava com cuidado se o material seria publicado ou não. Muitos desenhos não passaram; outros tiveram que ser modificados para serem publicados, um período realmente muito delicado para o jornalismo”.

O Pasquim e outros veículos independentes surgiram em 1968, mesmo ano em que foi editado o AI-5, o período mais difícil da ditadura militar. Eles eram chamados de imprensa alternativa em contraponto à grande imprensa, e publicavam material que não era de interesse dos grandes veículos. “Jaguar, Millôr Fernandes, Ziraldo, alguns dos criadores do Pasquim, tiveram inúmeros problemas de trabalhos censurados, muitos deles foram presos. Eles fizeram dignamente seu trabalho, com uma importância muito grande. O Pasquim teve enorme importância para a imprensa brasileira com uma série de entrevistas memoráveis que se tornaram a marca do jornal. Toda edição trazia uma entrevista com músicos, escritores, intelectuais, eles faziam uma grande roda com o entrevistado e faziam perguntas informais enquanto tomavam whisky, contavam piadas, deixavam o entrevistado realmente à vontade e, na hora da transcrição, tudo o que acontecia entrava no texto, tudo usado de forma bastante descontraída e com uma linguagem coloquial. O Pasquim foi responsável por criar toda uma geração de cartunistas, como o Paulo e o Chico Caruso, Alci, Laerte, Aroeira. Toda semana, eu ia até a banca para comprar O Pasquim, lia de cabo a rabo, na época eu consegui publicar alguns trabalhos lá também”.

Sobre a atual perseguição ostensiva a cartunistas que se dedicam a criticar o atual governo, como aconteceu recentemente com a charge “Crime continuado”, do cartunista Renato Aroeira, Fausto observa um fenômeno muito comum em regimes autoritários.

“Na época do Sarney, que era um governo de transição da ditatura para a democracia, a imprensa teve total liberdade, não houve punição aos chargistas. O governo Collor, um governo de direita, andou pegando no pé de alguns chargistas, mas sem grandes consequências. Nos governos democratas de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma e Temer a coisa também se manteve tranquila em termos de liberdade de imprensa e para o trabalho dos chargistas. Agora, o que estamos presenciando é a volta do viés da ditadura, com a censura do trabalho de chargistas, uma pegada ditatorial e fascista, que vai continuar assim pelo período em que o atual presidente estiver no governo”.

O caso de Aroeira motivou a Charge Continuada, um movimento dos chargistas em defesa de Aroeira, alvo do Ministério Público Federal, que teve apoio de instituições como a associação internacional Cartooning for Peace, a Associação Brasileira de Imprensa, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e a Associação Nacional de Jornais, entre outras, e recebeu o prêmio Wladimir Herzog. Em outubro de 2020, durante a divulgação dos vencedores do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, a comissão organizadora anunciou a criação exclusiva para esta edição do “Prêmio Destaque Vladimir Herzog Continuado”, uma homenagem a Aroeira e ao movimento “Charge Continuada”. Dentre os 109 chargistas que inscreveram trabalhos relacionados ao movimento está o guarulhense Leandro Franco, grande amigo de Fausto Bergocce, que dividiram a prancheta de criação artística no Jornal Olho Vivo, em Guarulhos.

Para Fausto, os apoiadores desse governo autoritário também representam grande ameaça à liberdade de expressão. “Na época da ditadura, tínhamos o risco de ser preso pelo governo e pela polícia, não havia os internautas de agora que, protegidos por um suposto anonimato, promovem ataques pelas redes sociais aos artistas”. Fausto lembra ainda de uma charge publicada recentemente por Leandro Franco, vítima de ataques de apoiadores do governo no Facebook.

“A arte é informação, é lazer, é cultura, é riso, é pensamento, a arte é tudo. Tem uma frase celebre do Ferreira Goulart que diz que só a realidade não nos basta, a gente precisa da arte para preencher a realidade. Desenhar não é uma obrigação, é um prazer, a maneira que encontrei de me manter ativo. Assim, eu inspiro as pessoas e as incentivo a seguir em frente”.

O cartunista e sua obra

Entre os livros publicados por Fausto estão os títulos Sem perder a linha (1999), Esqueçam o que ele desenhou (2002), Traço extra (2005), Candido Deodato, aventuras e desventuras de um demagogo (2008), Viva cartum (2007), A nuvenzinha exibida (2008), Reginópolis – sua história (2011), Uns e outros – cartuns soltos (2013), Carlotinha e a galerinha da Turma do Sorriso (2014), SketchBook Custom – Fausto Bergocce (2016), StripBook – Fausto Bergocce – Pré-Histórias (2017), The Teo (2018), Gataiada (2019) e o Do Ré Mi Fáusto (2020).

Reginópolis – sua história – 2011

Reginópolis – sua história colabora para consolidar a história da cidade com registro de personagens e documentação, segundo Fausto, motivo de muita alegria e orgulho para as famílias e gerações futuras. A obra ressalta ainda o trabalho do historiador, que ao mesmo tempo em que ouve as pessoas, também tem que se basear em documentos históricos.

Entrevistas com pessoas que conviveram com os fatos, resgate de personagens por vezes preteridos, pintores, jogadores de futebol da cidade, músicos, dentre eles o avô de Fausto, o maestro Eugênio Ramos de Oliveira.  O livro levou quatro anos para ficar pronto, período em que Fausto ia e vinha para Reginópolis e fotografava a cidade. Nessas idas Fausto conversava muito com as pessoas, reencontrou amigos e abriu seu baú de memórias.

“O Henrique é um jornalista e historiador, tem um texto muito bom, mora em Bauru, cidade próxima de Reginópolis. Ele ficou responsável por entrevistar as pessoas e pelos textos enquanto eu estava trancado em meu estúdio em Guarulhos criando as ilustrações para o livro”. Fausto conta que uma das coisas mais difíceis foi pesquisar a origem do padre Jeremias José Nogueira, mineiro de Ibituruna e fundador da cidade, que chegou à região em 1863. “Saímos de carro por várias cidades do interior, dentre as quais Descalvado, onde ele também atuou e fundou uma igreja. Pelas cidades por onde passamos, perguntávamos pelo padre, em quais igrejas havia estado, queríamos saber onde ele estava enterrado. Conseguimos o material de um historiador chamado Nivaldo Pita, que conta a história do cerrado paulista e nesse material ele cita o padre Jeremias e conta que ele foi enterrado em Espírito Santo da Fortaleza, a 12 quilômetros de Bauru. No Arquivo da Cúria Metropolitana, em São Paulo, descobrimos que ele nasceu em 1811, encontramos documentos com seu histórico, registros de 1832, nos quais ele solicitava autorização para ser sacerdote”.

A história da família de Fausto também faz parte da história de Reginópolis. Fausto era neto de Eugênio Ramos de Oliveira, um maestro famoso da cidade, que tinha um concorrente artístico, o maestro Osório Teixeira. Numa cidade com pouco mais de 3 mil habitantes, ambos disputavam o título de melhor banda da cidade, história retratada no livro de forma bastante apaziguadora. “Eles batalhavam pelo bem comum da cidade, muitos músicos se formaram graças a eles”.

Em suas pesquisas, Fausto também encontrou outro documento importante da década de 30, que trata da mudança de nome da cidade. “Moises de Miranda, um padre muito ativo, fez um abaixo assinado para mudar o nome da cidade, que até então chamava-se Batalha, devido ao rio que tem esse mesmo nome. As pessoas estavam muito incomodadas com esse nome porque ele gerava muita confusão. E foi esse padre quem criou o nome Reginópolis, Regina=rainha + pólis=cidade. O abaixo assinado foi enviado à Assembleia Legislativa de São Paulo, à época o governador era o Ademar de Barros. O nome foi aprovado em 1937 e, em 1949, Reginópolis passou a ser um município independente, elegendo seu primeiro prefeito. Esses documentos estão todos no livro, com as assinaturas das pessoas que participaram do requerimento e do texto da lei”.

Sem perder a linha – 1999

Em 1999, cansado de presentear clientes e anunciantes com canecas e garrafas de whisky no final do ano, o então diretor do Diário Popular, Nilo Mário Opitz, chamou Fausto Bergocce em sua sala. O ilustrador tomou um susto: “será que vou ser demitido, logo pensei. Mas ele foi muito simpático e sugeriu algo surpreendente: – que tal se fizéssemos algo diferente, um livro com as suas ilustrações! Puxa vida, Dr. Nilo, era isso que eu queria ouvir”. Sem perder a linha teve uma tiragem de 3 mil exemplares, projeto gráfico e edição do próprio Fausto. A cartunista Laerte, amiga de Fausto há mais de 40 anos, assina o texto de orelha. Um amigo sugeriu que Fausto fizesse uma coletânea e dividisse seus trabalhos em temas: arte, política, esporte, música. “E então eu resolvi a edição, selecionei meus melhores desenhos e fui misturando os assuntos. Na seção de política, por exemplo, há ilustrações, charges, caricaturas. O livro ficou muito lindo e fez um sucesso muito grande”.

Traço extra – 2006

Lançado em 2006, Traço Extra tem um significado muito especial para Fausto, marcando a retomada do cartunista ao universo gráfico. “Tanto no Diário Popular quanto no Diário de São Paulo, meu trabalho estava assegurado e ia muito bem, afinal, já trabalhava em redações há mais de 30 anos. De repente, no dia 17 de dezembro de 2003, meu chefe me chama e me avisa que eu estava demitido, isso foi um baque para mim. Então, eu tive que recomeçar todo o percurso, fiquei ansioso, pensativo, muito mal. Então, eu entendi que deveria dar a volta por cima, que não tinha mais um salário, tinha uma casa e uma filha para sustentar e precisava trabalhar como free lancer”. Durante um ano, Fausto se dedicou a uma nova publicação, o Traço Extra, uma coletânea com charges, cartuns, ilustrações, quadrinhos, um trabalho muito especial que recebeu prefácio de Paulinho da Viola e a ilustração de uma caricatura do músico, o grande mote do livro. “Eu batalhei muito para fazer esse livro, estava completamente sem dinheiro, então, eu consegui apoio financeiro, consegui pagar a gráfica, fiz o lançamento, por isso ele significa um momento de recomeço em minha carreira”.

Uma reprodução da obra A liberdade guiando o povo, do pintor francês Eugène Delacroix, e o desenho de um gato em frente à janela de uma casa na cidade de Carcassonne, na França, ilustram a capa de Traço Extra. Na sobrecapa, Fausto usou a reprodução de uma gravura japonesa feita com guache e uma reprodução de uma caricatura da obra Guernica, de Picasso.

Candido Deodato, aventuras e desventuras de um demagogo – 2008

Em 1997, período de grande efervescência política, ele havia criado o personagem Candido Deodato, um político demagogo, picareta, aproveitador, ideologicamente desastroso e que deseja se eleger para benefício próprio. As tirinhas com histórias dessa personagem foram publicadas no Diário Popular durante um ano. Dez anos depois, já no Diário de Guarulhos, Fausto decidiu publicar um livro de quadrinhos com as tirinhas, e foi então que surgiu Candido Deodato, aventuras e desventuras de um demagogo.

Uns e outros – cartuns soltos – 2013

Em 2013, Fausto lançou Uns e outros – cartuns soltos, um dos estilos com os quais mais gosta de trabalhar. “O cartum é como se fosse a piada contada, só que desenhado. Às vezes, a ideia do cartum nasce do nada, de uma ideia simples que surge na cabeça, algo que você observou e, pelo fato de não ter um texto ou expressão que o acompanhe, ele torna-se universal, porque os sentimentos humanos são iguais em todo o mundo, podendo ser entendido em qualquer parte do mundo, a partir de temas comuns como economia, sociedade, economia, um desafio fazer um cartum sem texto, porque ele já é uma linguagem. Eu também adoro fazer cartuns com textos locais e universais, mas o desafio maior é usar somente a linguagem dos desenhos, é o que eu gosto”.

Carlotinha e a galerinha da Turma do Sorriso – 2014

Em 2014, Fausto lançou Carlotinha e a galerinha da Turma do Sorriso (Laços, 2014) e realizou o sonho de criar personagens infantis que retratavam seu entendimento de mundo, sua paixão pelas artes, seu respeito ao próximo, seu altruísmo e desejo de uma sociedade mais justa. Dessa criação surpreendente surgiram convites para que Fausto Bergocce participasse de atividades da Secretaria Municipal de Educação, como aulas de desenho à mão livre para alunos das escolas da rede municipal, e oficinas de criação artística no Salão do Livro de Guarulhos em 2014 e 2016.

“Fazer quadrinhos é uma delícia, depois do Candido Deodato eu fiquei com aquilo na minha cabeça, e depois que nos conhecemos, surgiu a possibilidade de fazer a Carlotinha, uma personagem que nasceu de uma maneira bem tranquila”. Encantado com o visual que essa que vos escreve ostentava em 2014, cabelos avermelhados e cumpridos, sobrancelha grossa escura que destoava das madeixas, Fausto fez uma caricatura que o inspirou na criação da personagem infantil. “Na época em que nos conhecemos, na Comunicação da Secretaria de Educação, você foi a pessoa mais simpática que me recebeu, conversamos bastante, e depois que eu fiz a sua caricatura, fiquei bolando uns desenhos infantilizando a personagem, pensando em como você era quando criança. Decidi manter suas características, cabelo solto e sobrancelha grossa, eu tenho fixação por sobrancelha porque eu quase não tenho sobrancelha”, brinca.

A sequência de tirinhas diárias com a personagem Carlotinha logo ganhou as redes sociais e eram postadas todas as manhãs no perfil pessoal do cartunista no Facebook. “As pessoas começaram a curtir as postagens e isso me motivou a criar cada vez mais. Eu acordava cedo todos os dias, tomava café, desenhava, postava e, depois de um ano, já tinha material suficiente para uma nova publicação”. Para Fausto, é muito complicado desenhar e escrever para o público infantil. “Tem que haver um cuidado especial e, por isso, eu sempre consultava outras pessoas. Abri meu baú de memórias e coloquei ali um monte de coisas de quando eu era criança, foi um desafio, minha retomada com as tirinhas, uma oportunidade de homenagear pessoas bacanas que eu conheci naquela época”.

Muito embora não tenha levado as histórias individuais de cada um da equipe de comunicação da Secretaria de Educação de Guarulhos para dentro do livro Carlotinha e a galerinha da Turma do Sorriso, Fausto contemplou carinhosamente todos eles com o nome de seus animais de estimação, das mães, suas preferências e hobbies, os desenhos e fotografias das pessoas, detalhes encantadores que, somados, deram vida à turminha, uma forma de tornar cada uma das pessoas parte fundamental de sua criação. “Tem o José Augusto Lisboa, que é o Guto, o Eduardo Calabria, que é o Edu, o Maurício Burim, que é o Burinzinho, a Yve de Oliveira, que gostava de fotografar, era a fotógrafa da turma, a Anna Solano que é desenhista, e queria desenhar os girassóis de Van Gogh, o flamboyant vermelho de Reginópolis onde ficava o cada do João e da Joana de Barro, todo um universo artístico com diferentes linguagens, arte, fotografia, música, lazer, entretenimento, toda a minha bagagem de conhecimento e da minha vida pessoal que foram trazidos para a obra”.

Essa curiosidade inspirou a participação de Fausto Bergocce em eventos da Secretaria de Educação, as edições do Salão do Livro de 2014, que aconteceu no ginásio Paschoal Thomeu, e 2016, no Centro Municipal de Educação Adamastor, quando o cartunista teve a oportunidade de palestrar e falar sobre a obra. “As pessoas têm muita curiosidade sobre como se faz um livro e como se cria uma personagem. Às vezes, quando estou em Reginópolis, encontro crianças na rua que me falam que têm o livro da Carlotinha, então eu pergunto a elas de quais personagens gostam mais, um fala que gosta do gatinho, outro da Carlotinha, as crianças realmente gostam muito desse livro”.

 Em 2016, Fausto teve a oportunidade de assistir a palestra e conhecer o ator Lazaro Ramos no Adamastor. “Eu gosto muito dele, entreguei a ele um exemplar da Carlotinha, no livro eu criei um personagem em homenagem a ele, o Lazinho, que quer ser ator de teatro, e foi muito legal pode falar com ele”.

Bibliografia

Sem perder a linha – 1999, Massao Ohno Editor

Esqueçam o que ele desenhou – 2002, RG Editores

Traço extra – 2006, RG Editores

Candido Deodato, aventuras e desventuras de um demagogo – 2008 – HBG Comunicações

Viva cartum – 2007 – Paradiso

A nuvenzinha exibida – 2008 – HBG Cominicações

Reginópolis – sua história – 2011 – Kalaco

Uns e outros – cartuns soltos – 2013 – Kalaco

Carlotinha e a galerinha da Turma do Sorriso – 2014 – Laços

SketchBook Custom – Fausto Bergocce – 2016 – Criativo

StripBook – Fausto Bergocce – Pré-Histórias – 2017 – Criativo

The Teo – 2018 – Maio Produções

Gataiada – 2019

Dó, Ré, Mi, Fáusto – 2020 – Criativo

Nós Passarinhos 2020

Um comentário sobre “Dó, Ré, Mi, Fáusto: livro é dedicado aos músicos anônimos que transformam a arte em vida

  • Grande amigo, Fausto, que conheceu Belchior, e não foi numa “Fotografia 3×4, ou num avião que segurou a mão pela primeira vez num lápis e criou todo esse universo de charges e cartuns sobre a vida e sobre Reginópolis!!! Fausto poeta do traço, simples, humilde, mas um ser humano espetacular!!!
    Parabéns!!! meu velho!!! AbraçoSALÃO a vc!!!
    Erasmo, cartunista!

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