fbpx
Notícias

Exposição Retratistas do Morro segue em cartaz no Sesc Guarulhos com atividade gratuita sobre fotografia 

Acervo fotográfico tem a proposta de narrar e revisitar uma história recente de imagens brasileiras, com destaque para personagens invisibilizados na sociedade

A exposição Retratistas do Morro segue em cartaz no Sesc Guarulhos até o dia 25 de agosto, com visitação gratuita de terça a sexta, das 9h às 21h30, sábado, das 9h às 20h e domingo e feriado, das 9h às 18h. A exposição apresenta a vida cotidiana dos moradores do Aglomerado da Serra – segunda maior favela do país, localizada ao sul da capital mineira, Belo Horizonte – entre 1969 e 1990. A A mostra é um desdobramento do trabalho social Retratistas do Morro, conduzido desde 2015 pelo artista visual e pesquisador Guilherme Cunha, curador da exposição.

Seu extenso acervo fotográfico tem a proposta de narrar e revisitar uma história recente de imagens brasileiras, com destaque para personagens invisibilizados na sociedade. O olhar íntimo das festas, casamentos, batizados, formaturas e outros eventos retratados  nessas imagens vem de Afonso Pimenta e João Mendes, fotógrafos membros e atuantes na própria comunidade. 

Com a expografia assinada por Ricardo Amado, a montagem no Sesc Guarulhos da exposição apresenta 223 imagens, divididas em três temáticas que se misturam pelo espaço: 

Retratos – fotos de estúdio feitos por João Mendes, usados para documentos e registros, além de retratos do cotidiano que Afonso Pimenta chama de “corpo a corpo”, o conjunto de imagens constrói a trajetória dos moradores na vida cotidiana, casamentos e celebrações, para além dos registros oficiais;

Bailes – destaca registros de Afonso retratando os personagens, figurinos e passos dos bailes black soul;

Espaço das Becas – crianças e jovens da comunidade celebrando a formatura escolar, vestidas com as tradicionais becas coloridas e com seus diplomas nas mãos.

Como parte das ações integradas à exposição, o Sesc Guarulhos realiza no seu Espaço de Tecnologia e Arte de 2 a 30 de junho, domingos, às 14h, a oficina Desenhos Fotográficos, onde os participantes podem explorar e desenvolver diferentes elementos e ferramentas para a composição de seus trabalhos, misturando desenho, pintura e fotografia, através da técnica conhecida como quimigrama. A atividade é gratuita com retirada de senhas 30 minutos antes no local da ação.

Sobre o Aglomerado da Serra

O Aglomerado da Serra, formado pelas vilas Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida, Santana do Cafezal, Novo São Lucas, Fazendinha, Chácara e Marçola, é resultado da expansão populacional e territorial a partir de 1914,

 como solução para muitas famílias que vieram do interior para colaborar na construção da capital mineira ou à procura de emprego e não tinham onde morar. 

Sobre os fotógrafos

João Mendes, aos 8 anos, começou a trabalhar na roça com os pais. Em 1963 mudou-se para Ipatinga com a família, em busca de uma nova vida. Após passar por vários empregos e vender picolés de porta em porta, aos 15 anos iniciou sua trajetória na fotografia.

 Ainda nessa época, foi contratado pelo delegado de polícia da cidade para ser o fotógrafo oficial da perícia. Entre os deveres em casa e na escola, retratava cenas de crimes.

No dia 2 de agosto de 1973, João Mendes se estabeleceu como um dos primeiros fotógrafos profissionais no bairro Serra, em Belo Horizonte. No entanto, suas primeiras imagens da região datam de 1968. Desde então, sua loja Foto Mendes está localizada no mesmo local e é uma referência, pois por lá já foram fotografadas quatro gerações.

João ficou conhecido pelos retratos em preto e branco, 3×4 para documentos, feitos principalmente para carteira de identidade, e fotos postais enviadas por correio como cartas ou objetos de recordação a parentes que, muitas vezes, permaneciam no interior.

No acervo de João Mendes também pode ser encontrada uma significativa coleção de fotografias de becas ou formaturas, em que as crianças e jovens da Comunidade da Serra, estudantes da rede pública de ensino, foram fotografadas celebrando a passagem de diferentes períodos escolares.

Afonso Pimenta saiu do interior de São Pedro do Suaçuí em 1970, com destino a Belo Horizonte, para ajudar sua madrinha com as despesas da casa na favela do Cafezal, uma das vilas que formam a Comunidade do Aglomerado da Serra.

Por falta de emprego, passou uma temporada catando e vendendo esterco até ser contratado como gari pela prefeitura. A fotografia chegou à sua vida por necessidade. Como assistente do fotógrafo João Mendes, enquanto lavava as imagens já reveladas, ia aprendendo um futuro ofício.

Seu percurso como fotógrafo profissional começou a se consolidar quando passou a registrar os bailes Soul da Comunidade da Serra, a convite de Misael Avelino dos Santos, um dos fundadores da Rádio Favela e organizador dos bailes.

Ao longo da década de 1980, acompanhou os movimentos culturais da música e da dança que traziam a afirmação e força da identidade cultural negra em Belo Horizonte. Fotografou os concursos de dublagem, os salões, os dançarinos, grupos de amigos e viveu muito perto os bastidores do movimento “Black” que surgia na periferia.

Esse foi para ele o momento em que mais trabalhou com a fotografia, uma vez que o registro dos bailes era uma forma de divulgar seu nome entre os moradores da comunidade. Começou então a trabalhar, como ele mesmo define, “no corpo a corpo” – indo ao encontro das pessoas e caminhando pelo morro.

Sobre o curador

Guilherme Cunha é artista visual, pesquisador e empreendedor cultural formado em artes plásticas pela Escola Guignard (UEMG) e Pittsburg State University (KS/EUA). 

A produção e projetos que desenvolve, atuam no campo de interseção entre as artes e outras diversas formas de conhecimento. Foi artista residente do Atelier #3 na Casa Tomada (SP/2010), do JA.CA (BH/ 2014) e do RedBull Station (SP/2014); Foi contemplado no programa de exposições do Espaço Cultural Marcantônio Vilaça em 2015, no XIII Prêmio FUNARTE Marc Ferrez de Fotografia e foi coidealizador do projeto que recebeu o XIV Prêmio FUNARTE Marc Ferrez de Fotografia. É coidealizador e codiretor do FIF BH – Festival Internacional de Fotografia de Belo Horizonte (2013/2015/2017). Em 2017, recebeu o prêmio do IPHAN, de preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro, Rodrigo Mello Franco de Andrade, com o projeto Retratista do Morro. 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Skip to content