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Militância retórica e a gestão sem escuta

“O sonho de todo artista é fazer com que a sua arte alcance o público, que o toque em sua subjetividade despertando os mais diversos sentimentos e, talvez, a função do poder público na área da cultura deva ser possibilitar e potencializar esse desejo, dessa forma, ambos construiriam um ambiente rico social e culturalmente, dando ao povo o que é do povo

Por André Bizorão

Quando eu começo a pensar nos artigos para a Guarulhos Cultural, questões, indecisões e posicionamentos entram em conflito dentro da minha cabeça, cada parte que habita esse limitado crânio apresenta seus argumentos, fatos e ideias sobre o assunto e promovem, mutuamente, um fórum mental que pode talvez se transformar em consenso quando são transformadas em ideias, e mesmo quando partes divergem, o mais importante, é que todas essas consigam falar e se escutar em busca da realização.

Talvez, se Guarulhos por si só fosse um organismo vivo, a região deste corpo responsável pela cultura não conseguisse encontrar esse consenso. Não sei se o meu diagnóstico será preciso e, tampouco, pretendo ofender os amigos ativistas da causa cultural e, muito menos, ofender gratuitamente o poder público, o que não agregaria em absolutamente nada em minha caminhada… Mas acho que é importante essa reflexão sobre esse cabo de guerra invisível, que impede que o elemento básico para a cultura existir, frutifique: a comunicação.

Tudo é passageiro, a gestão e os gestores, os artistas e fazedores de cultura… Mas eu me pergunto continuamente: qual legado deixaremos pra essa cidade? Pra esse corpo?. O sonho de todo artista é fazer com que a sua arte alcance o público, que o toque em sua subjetividade despertando os mais diversos sentimentos e, talvez, a função do poder público na área da cultura deva ser possibilitar e potencializar esse desejo, dessa forma, ambos construíriam um ambiente rico social e culturalmente, dando ao povo o que é do povo.

E é nesse ponto que eu me permito fazer uma pergunta retórica aos artistas e aos gestores: onde é que nós estamos errando nisso tudo?

Claro que é muito mais fácil colocar a culpa toda em cima do poder público, afinal, eles ditam as leis e, muitas vezes, fazem-nas valer para os seus próprios interesses. Estão sentados em cima do cofre e possuem as chaves dos espaços públicos de cultura, muitas vezes dificultando o acesso aos mesmos.

Mas eu acho que, apenas bater sempre com o mesmo punho, possa se tornar um tática de “certeza retórica”, palavrinha que eu coloco aqui pra ilustrar o quanto eu acho cansativo a militância que se fecha numa pauta que se limita às certezas que nunca se materializam.

E do outro lado da corda, puxam aqueles que podem dizer ‘NÃO’ ou, no mínimo, cozinhar o SIM para que ele talvez um dia fique pronto, ou quem sabe, acabemos por nos esquecer. Que adotam a tática dos ouvidos moucos, que fingem não ouvir as necessidades que esse corpo urra pedindo dia a dia.
A cultura de Guarulhos é universo inteiro de possibilidades, de riquezas e pluralidades e com um pouco de vontade, cada morador que habita esse corpo poderia ver com muita facilidade todos os astros celestes que o habitam, na minha pequeníssima, limitada e talvez, superficial visão: sobra conversa e falta escuta.

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