O dia em que um projeto cultural será patrocinado

Às vezes parece mais fácil acreditar que, beijando o sapo, ele vai se tornar um príncipe do que acreditar que seu projeto cultural será patrocinado por uma empresa e você poderá executá-lo de maneira profissional. Mas, nem sempre precisa ser assim.

Existem diversas histórias que são exceções {a regra: um amigo que indicou, uma sacada genial ou até mesmo o fato de estar no lugar, na certo na hora certa e com a proposta certa. Tudo isso que, muitas vezes, é contado como acaso, são reflexos de uma estrutura muito similar que aparece na maioria das histórias que tem um final feliz.

Isso porque, quando vemos uma história de perseverança estamos atentos somente aos encontros finais. Como disse Stiven Jobs em seu discurso na formatura dos alunos de Stanford (se não viu esse discurso, recomendo fortemente que assista clicando aqui), é necessário ligar os pontos, conectar as ações do passado que garantiram a possibilidade de um grande passo de sucesso.

O que é o sucesso?

Não adianta continuar esse texto sem conceituar minimamente o que eu considero sucesso. Sucesso é uma medida individual e volátil. Pode ser viver bem, mas viver bem pra mim e pra você são coisas diferentes. Sucesso pode ser o reconhecimento por um trabalho, mas reconhecimento é diferente pra mim e pra você.

Por esse motivo, sempre considero que o sucesso é alcançar um resultado previamente estabelecido. Como aqueles jogos de sinuca em que o jogador diz em qual caçapa vai acertar. Se ele acertar em outra, não vale ponto. Só vale se ele disser o que ele vai fazer.

Dessa forma, quanto mais claro é o seu objetivo, maior será a satisfação de alcançar o seu sucesso. Também mais desafiador e difícil de alcançar…. É sentar numa tarde ao por do sol e pensar: é exatamente como eu imaginei. A temperatura, os tons de cores quentes nas nuvens contrastando com o azul infinito, o som do celular tocando e a confirmação de que o seu projeto cultural será patrocinado.

Mais não do que sim

Peço desculpas aos librianos, mas a vida é feita de escolhas e entre as sete cores do arco-íris, é preciso dizer não para seis para dizer sim para uma cor favorita. Não significa que você irá usar violeta em tudo o que você fizer, mas neste momento, esta foi a cor que eu escolhi.

Essa simples informação é a base para compreender que seu projeto cultural será patrocinado sim, mas antes ele certamente será negado. Não será somente uma vez… normalmente são três negativas para uma aprovação em caso de editais. Claro, se você estiver alinhado com a proposta. Mandar proposta de apresentação musical em edital de impressão de livro não conta para esta estatística.

O não traz duas informações importantes: primeiramente é que o não neste caso não é definitivo. Entenda o porquê da negativa e use isso a seu favor em uma próxima conversa. Outra informação importante é o momento em que você recebeu o não. Esse é o principal equívoco, determinante para compreender o sucesso de seu projeto cultural.

O caminho até o fim do arco-íris

Entenda o seu projeto, invista no seu projeto e comece a estabelecer parcerias para que ele comece a ganhar corpo. As vezes, as pessoas não entendem seu projeto pelo fato de você estar comunicando com as pessoas erradas. Outras vezes, a forma de comunicar é que não está funcionando.

Para começar é sempre difícil, mas o desafio inicial é compreender o caminho entre uma empresa que nunca ouviu falar de você até transformá-la em uma investidora do seu trabalho ou de terceiros. Primeiro, a empresa precisa conhecê-lo e, normalmente isso acontece, quando você se apresenta para ela.

Depois, você precisa entender os desafios dessa empresa e compreender se seu projeto pode ser uma proposta viável para superar esses desafios. Normalmente em caso de patrocínio, os desafios mais comuns são de relacionamento com o público.

Essa é uma informação valiosa: visibilidade não é um critério somente quantitativo. Em regra, a quem a proposta se destina é muito mais importante do que a quantidade de impactados. Quem tem número, abuse deles. Quem não tem, se apoie na qualidade dos dados.

O Pulo do Gato

Você se conhece, conhece seu patrocinador e estão conversando… agora é a hora da proposta. E a resposta vai ser não. Provavelmente com outras fantasias como nosso orçamento para este ano já foi todo comprometido, nós só trabalhamos com projetos aprovados em tal lei de incentivo, deixaremos seu projeto em nosso banco de dados… Normal. Não tem problema algum nessas respostas.

Lembre-se que sempre serão mais nãos do que sim. Mas que também tem uma outra regra muito importante: quando mais vezes eu escuto um não, mais perto eu estou do meu próximo sim.

Portanto, não tem encanto, não tem magia. Não tem golpe de sorte, nem lindos olhos que resolvam essa questão. Convido você a encontrar o seu caminho padrão. Com consistência e trabalho sistematizado, seu projeto cultural será patrocinado.

Assim é como eu vejo. E você, como enxerga o caminho para o patrocínio?

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Antes que eu me esqueça….

Justiça aos Povos Originais: No domingo, 4 de abril de 2021, a Aldeia Indígena Multiétnica “Filhos desta Terra” (Cabuçu/Guarulhos) teve suas três ocas destinadas a práticas ancestrais e acervo cultural incendiadas. Sei que vivemos um momento muito difícil financeiramente para todos, mas se for possível, peço que ajude contribuindo com qualquer quantia para que possam reconstruir esses espaços PIX: 11989898393 – Gilberto Silva dos Santos (Awa Kuaray Wera)

Não comece do zero: Talvez você seja um jovem guarulhense e busque por mais informações sobre os caminhos para o desenvolvimento de seus trabalhos. Tem muita gente que já correu essa estrada na cidade e você pode ir muito mais rápido conhecendo um pouco mais dessas histórias. Nesse sentido recomento a leitura da entrevista que a Guarulhos Cultural fez com Aldo Di Julho falando sobre a Guarumusic .

Estado de Emergência – Novos movimentos culturais começam a surgir em debates municipais em especial nas capitais visando novos recursos para o apoio aos artistas. Extremamente justo pois não existe garantias de que a Lei Aldir Blanc seja institucionalizada enquanto política pública permanente. Ainda assim, minha leitura é que precisamos ser cirúrgicos pela urgência e grandeza da Lei. O ideal por hora, acredito, é fortalecer o movimento nacional para que o congresso tenha força na efetivação deste projeto de lei.