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Onde foi que você viu os grafites do Jota Pe?

Grafiteiro guarulhense é criador da formiga Jotonico personagem sempre antenada e com ações que refletem tudo o que acontece na sociedade

Desenhos com traços afro, que sempre carregam uma reflexão com o objetivo de diversificar opiniões. Quem anda pelas ruas de Guarulhos já se deparou com os grafites do artista plástico Jota Pe, guarulhense de 40 anos formado em Artes Visuais pela Fig Unimesp. Jota Pe também é criador da Jotonico, uma formiga inspirada na Formiga Atômica de Hanna-Barbera, personagem sempre antenada e com ações que refletem tudo o que acontece na sociedade.

Os grafites de Jota Pe estão espalhados por diversos pontos dentre e fora da cidade e por alguns estados por onde ele já passou. Em Guarulhos, há desenhos nos CEUs Rosa de Franca, Continental, Parque São Miguel, Vila São Rafael, no Itapegica, e Presidente Dutra, e também no Zoológico, algumas escolas municipais e estaduais e em estabelecimentos comerciais.

Quando circula pela cidade e encontra seus graffitis, o sentimento de Jota Pe é de dever cumprido. “Sei que muitos jovens se inspiram em minha arte, já tive vários momentos em que as pessoas conheciam meu trabalho, mas não a minha pessoa, e quando me encontraram pude ver o brilho nos olhos e o prazer ao falarem de alguma arte que fiz”. Satisfeito, Jota Pe também conta que já teve a oportunidade de ver alguns dos seus trabalhos serem utilizados em apresentações de trabalhos de conclusão do ensino médio. “Já recebi mensagens de mães que têm filhos em escolas particulares para falar que o meu trabalho foi usado como tema de aula”.

A arte sempre fez parte da história de Jota Pe. Seus primeiros passos no graffiti aconteceram no início dos anos 90, quando ele participava de alguns grupos de pichação. Porém, antes do graffiti, ele se dedicou ao artesanato. “Via alguns artistas pintando umas artes em madeira na comunidade onde eu cresci, eu ficava olhando pela fresta da cerca por horas, aquilo me encantava”.

Na comunidade onde cresceu, inspiração nunca faltava. “Tínhamos que nos reinventar para criar algo, tanto nas brincadeiras quanto pra levar um trocado para ajudar em casa, quando você precisa de algo, mas não tem dinheiro pra comprar, nos virávamos com que tinha para construir algo, então, vejo que a inspiração vem da necessidade”.

Pixo e graffiti

Assim como outras artes urbanas, o graffiti sempre sofreu com o preconceito, falta de aceitação e entendimento. “Considerada uma arte marginal, o grafite sempre foi um meio de cobrança feita pelos menos favorecidos, sempre criticando, denunciando ou causando polêmicas. Vejo que hoje essa arte está mais aceitável, mas, por quê? Por causa da apropriação, contratado, o artista deixa de criticar, causar pra fazer o que contratante quer e isso não é errado, pois temos que sobreviver, só não podemos perder a nossa identidade crítica”.

Sobre a relação entre a pichação e o graffiti, Jota Pe observa que ambos sempre andaram lado a lado, com muito respeito entre grafiteiros e pichadores, um completando o outro, mas eles logo se desvincularam quando o graffiti passou a ser autorizado pelo proprietário do local. Em 2008, um grupo de pichadores invadiu uma galeria em Pinheiros e danificou 20 obras de arte expostas, trabalhos de arte underground autorizado, como grafite e design gráfico. “Essa ação foi considerada um dos maiores manifestos artísticos já ocorrido no mundo. Os gringos vêm de fora só pra fotografar as pichações de São Paulo porque lá fora é considerado uma das maiores manifestações artísticas. As pichações surgiram com a arte rupestre, hoje eu já não vejo a pichação como antigamente, a muleka não tem objetivo e nem sabe pelo que está lutando”.

A conquista de espaços de destaque é responsável por uma mudança de mentalidade. Segundo Jota Pe, sempre existiu e existe uma grande luta para que isso aconteça. “Mas esses espaços não são para todos, quando me convidam para fazer um trabalho dentro de um espaço, casa, loja, comércio, instituição, isso não é considerado mais como graffiti e sim, um trabalho comercial, encaixado nos padrões do contratante. Quando falamos em graffiti, consideramos a liberdade de expressão, na qual o artista é livre para criar o que quiser, quer você goste ou não, então o graffiti não foi desmarginalizado, ele apenas foi rotulado como uma arte comercial, que de graffiti não tem nada”.

Jota Pe acredita que todos querem ser vistos e lembrados, e tanto o pichador quanto o grafiteiro estão em busca do objetivo de serem reconhecidos. “O que falta são oportunidades, todos nós vivemos em constante busca, o trabalhador procura reconhecimento para ser promovido, pra isso acontecer ele precisa que o patrão o enxergue, então ele tem que se destacar em algo pra que isso aconteça. Assim também é o pichador, ele precisa que alguém o enxergue, acredite nele e de um voto de confiança para ele, só que infelizmente isso não acontece, e mais fácil condenar do que cuidar”.

Para conhecer mais sobre o trabalho de Jota Pe, acesse seus perfis no Instagram @jotapeartederua (https://www.instagram.com/jotapeartederua/), @aquarela_urbana (https://www.instagram.com/aquarela_urbana/) e no Facebook https://www.facebook.com/jotapeartederua.

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