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Entrevista

Aline Rissuto é a nova endorsee da loja virtual Mundo da Música

Foto de Capa: Patricia Gonçalves

Em bate-papo com a Guarulhos Cultural, pianista guarulhense fala das conquistas e desafios para o alcance da equidade entre gêneros na música

Por Carla Maio

Quem são elas? O que ouvem? Quais instrumentos tocam? Como administram suas carreiras? De que modo se equilibram em um mercado no qual predomina a figura masculina? Quando pensamos no considerável aumento do número de mulheres no cenário musical, que de acordo com estudo inédito do Ecad teve um aumento de mais de 1400% na categoria de autoras/compositoras, nos deparamos com uma série de desafios que tiveram que ser superados para garantir a equidade entre gêneros na música.

A cantora guarulhense Aline Rissuto comemora uma dessas conquistas ao ser convidada para endorsee indicando marcas que usa para o site Mundo da Música, loja virtual especializada em instrumentos musicais, equipamentos de áudio, projeção, iluminação e discotecagem. Desde 2018, Aline é endorsee da marca de ukuleles Kalani, e em 2020, foi convidada a representar a Torre de som STD Áudio, da marca Montreal, comercializada pela Montreal Music Shop Guarulhos.

Sócia-proprietária da escola Projeto Sonoro, Aline Rissuto é pianista, cantora, compositora, ukulelista e educadora musical, bacharel em música e pós-graduada em educação musical. Aline ministra oficinas de Ukulele para educadores musicais, pedagogos, professores e estudantes de música. Seu trabalho com o Ukulele na Educação Musical tornou-se referência em todo Brasil. Além do trabalho como educadora, a artista Aline Rissuto tem um EP intitulado “Meu Ego” lançado em 2017, e em 2019, lançou seu novo disco chamado “Passo”.

Recentemente, lançou a canção “Exílio”, single que integra o EP “Conecte-se”, terceiro trabalho da cantora, concebido durante o período de isolamento social imposto pela pandemia.

Foto: Anderson Moura

Em entrevista para a Guarulhos Cultural, Aline fala da figura da mulher no mercado fonográfico, formação e carreira, revelando um perfil empreendedor, extremamente engajado em ampliar a participação feminina no cenário musical.

Liberdade para se libertar

Guarulhos Cultural – O levantamento feito pelo ECAD mostra que, em 2011, havia pouco mais de 27 mil mulheres na base de filiados do Ecad. Hoje, elas são 385.940, um crescimento expressivo de 1200%. Pensando no aspecto da profissionalização, o que esses números apontam?

Aline Rissuto – Hoje, as mulheres têm muito mais facilidade para gravar, têm mais autonomia e independência, melhor formação, dedicam mais tempo aos estudos, possuem fácil acesso a estúdios, muitas trabalham e dispõem de recursos próprios para bancar sua carreira, existem muitos movimentos de conscientização e luta acerca da mulher, editais de fomento com foco na participação feminina, espaços culturais como o SESC e casas de shows que promovem eventos com participação exclusiva de mulheres, ou seja, cresceram a quantidade de ações, frentes e incentivos para que as mulheres tenham espaço, que antes eram todos tomados exclusivamente por homens. Além disso, há também o posicionamento das mulheres diante de sua arte, de fazer acontecer e chegar, de não mais permitir que as outras atribuições cancelem seu desejo de realizar um sonho. Tudo isso explica esse crescimento.

GC – O estudo também revela maior crescimento na categoria de autoras/compositoras, que saltou de 23 mil em 2010 para mais de 365 mil em 2020). Considerando que o número de musicistas mulheres cresceu 275% na década, como seu dia a dia como educadora, mas também como artista e profissional engajada na formação de novos instrumentistas, contribui para a ampliação da participação feminina na música?

AR – Esse aumento no número de mulheres que se lançam como compositoras está ligado ao posicionamento feminino no mercado da música. Se por um lado o estudo e o aprimoramento da técnica pode ajudar na profissionalização e carreira performática de mulheres compositoras e instrumentistas, por outro, há mais mulheres se envolvendo com a música e estudando música, dispondo de ferramentas para experimentar outras possibilidades de criação.

Quando você tem mais mulheres estudando música e mais mulheres se dedicando à arte de tocar um instrumento e de cantar, elas passam a querer também experimentar outras vertentes, dentre as quais a composição. E nessas experimentações, as mulheres vão se lançando, descobrindo, aprendendo.

GC – A gravação de músicas por mulheres apresentou crescimento de 212% e o registro de composições cresceu 473%. Isso nos mostra que há mais mulheres fazendo música hoje que há uma década. Quem são essas mulheres? O que ouvem? Quais instrumentos tocam? Como administram suas carreiras? De que modo elas se equilibram em um mercado em que predomina a figura masculina?

AR – Eu participo do Sarau As Mina Tudo e acredito que esse espaço pode ser um termômetro para que a gente possa pensar nessas questões. O que eu percebo em meio às participantes é a existência de muitas meninas que tocam para se acompanhar, não que elas sejam instrumentistas, mas elas se arriscam no instrumento porque percebem a importância de aprender a tocar um instrumento para depender cada vez menos de alguém tocando, principalmente de um homem. Percebo a necessidade da mulher ter essa autonomia artística, mesmo que tocar o instrumento não seja seu principal foco. No Sarau, vemos muitas mulheres com muitas habilidades, que cantam, tocam, recitam poemas, usam percussão, tem sido muito bacana assistir, participar e concluir que não há mais um limite, que tudo é possível e permitido. As mulheres estão aí, fazendo o que sabem fazer, do jeito que sabem fazer, e com o tempo vão melhorando esse fazer. A crítica que muitas vezes vem de fora e transforma-se em autocrítica tem que ser quebrada. Você tem que mostrar sua arte independente de achar que está pronta ou não. Faça, comece, se você nunca começar, você nunca vai saber, nunca vai se aperfeiçoar.

GC – Esse tímido aumento da participação feminina no mercado fonográfico também registra que, entre as 300 mil músicas mais tocadas nos últimos anos, apenas 14% têm mulheres entre os autores. Quais são os possíveis caminhos para ampliar ainda mais esses números?

AR – Apesar de todos os avanços evidentes, ainda existe um receio de estar nos lugares. Acredito que algumas redes de ajuda podem orientar as mulheres para que elas possam chegar a alguns canais, participar de editais, ter mais acessos, encontrar profissionais que possam colaborar com o gerenciamento da carreira. Há muitas mulheres falando alto na carreira artística, no sertanejo, pop, música brasileira, mas ainda são poucas. Leva muito tempo para que novas mulheres consigam mostrar seu trabalho na grande mídia, há inúmeras outras artistas com grande potencial, tem tanta mulher com trabalhos legais, era realmente necessário contemplar mais pessoas nesse cenário, abrir espaço para renovar a cena.

Bater a cabeça, tropeçar, levantar

GC – Como você observa a formação de novos instrumentistas no Brasil?

AR – Percebo que existem várias formas de se inserir uma pessoa na música. Existem as tradições, pessoas que nascem em famílias de músicos e que são incentivadas e estimuladas a estudar desde cedo e, por isso, têm mais facilidade e seguem a profissão como um caminho natural dado por esse convívio familiar. Por outro lado, há pessoas que aprendem música em outros contextos, como o Projeto Guri, uma iniciativa muito importante e responsável por inserir inúmeras pessoas na música, os conservatórios e as escolas livres de música, que também ajudam a fomentar a carreira musical. São esses espaços, escolas e instituições que são as grandes incentivadoras do estudo de música no Brasil.

Estudei no Conservatório de Guarulhos, fui aluna dos professores Luciana Noda, Renato Figueiredo, Maria Emília e Adriano Vasconcelos. Na época, o Conservatório priorizava o ensino de música clássica. Com o passar dos anos, o Conservatório passou por mudanças e inseriu em sua grade o estudo de outros estilos de música, como a viola caipira, piano popular e violão popular, o que é muito importante para expandir a aderência de novos estudantes de música, sobretudo em nossa cidade. Por isso, iniciativas do setor público como o Conservatório, Projeto Guri, entre outros, são importantes para que mais pessoas possam conhecer o vasto universo de atuação na música.

GC – Pensando no aspecto empreendedor, de que modo as formações disponíveis podem colaborar para a profissionalização dos músicos e a gestão de carreira?

AR – Sou de uma família de comerciantes, por isso, desde muito cedo, aprendi a gerenciar meu próprio negócio. Quando me vi artista, quando encarei que seria uma performer, essa bagagem do empreendedorismo me ajudou demais a me organizar financeiramente, na minha imagem, aspectos que são a grande dificuldade de muitos artistas, que normalmente estão submersos na criação musical, em compor e tocar bem, mas a gente precisa também entender que todo artista é uma empresa e que toda empresa precisa ser administrada e, no nosso caso, por nós mesmos. Quando o artista entende que ele é um empreendedor, ele entende que precisa dedicar um tempo às suas redes sociais, a cuidar de sua carreira e imagem, organizar sua agenda.

Uso meu lado empreendedor em todas as minhas vertentes de atuação, com a Aline Rissuto artista, a Aline Rissuto educadora e a Aline Rissuto dona de uma escola de música, algo que tive o privilégio de aprender na raça, no dia a dia, batendo a cabeça, tropeçando e levantando. Percebo que muitos artistas se perdem nesse momento, no entendimento de que somos nós mesmos quem temos que cuidar de certos aspectos da nossa carreira, como as redes sociais. Enquanto não tivermos uma receita, um empresário ou patrocinador, que pague uma pessoa para cada uma dessas funções, somos nós mesmos quem temos que fazer e não há nada melhor do que a gente mesmo fazer no começo, porque dessa forma, você entende o processo, é você quem tem o feeling do que quer e não quer, o público que deseja alcançar. No caso das redes sociais, os artistas têm em mãos uma ferramenta muito importante, vivemos numa época de grande privilégio, quando é possível divulgar suas coisas de graça ou com pouco investimento, fazer seu trabalho chegar até as pessoas, diferente de antigamente, quando o artista só conseguia mostrar seu trabalho se ele aparecesse em um programa de TV ou nos jornais. Antes, os artistas não tinham contato com seu público, não chegavam ao público senão por esses meios. Hoje, essa barreira e distância com o público não existem mais.

Percebo que existe uma grande desunião da classe artística, uma dificuldade de se articular e se ajudar. Precisamos, com urgência, valorizar o nosso amigo artista, divulgar sua arte, porque isso se transforma numa rede de apoio porque o artista não é nada sozinho, ele depende tanto do seu público quanto do público do outro, ninguém ouve um único artista a vida inteira, a gente precisa se unir e conhecer um ao outro.

GC – Quais são os principais desafios enfrentados pelas mulheres que desejam fazer música?

AR – Eu poderia listar uma série de tópicos com diversos desafios que todo artista, independente de gênero, enfrenta. Desde a forma de se posicionar no mercado, encontrar seu caminho, sua vibe, público, decidir em qual área vai atuar na música, encontrar um trabalho paralelo à carreira para dar sustentação, são questões gerais, que todo artista enfrenta. No caso das mulheres, o maior desafio ainda é o machismo. Em qualquer área, mas particularmente na carreira artística, lidar com o acúmulo de tarefas que a mulher tem e conciliar com os filhos, marido, família, casa, é muito difícil. A profissão de musicista exige concentração, foco, estudo, um pouco de solidão e até introspecção para compor, criar e estudar, longe de um ambiente que tenha barulho, por exemplo.

Como eu sempre fui muito independente e sempre fiz as coisas sozinha, eu levei algum tempo para entender em quais momentos eu realmente estava sofrendo machismo. Algumas atitudes são tão recorrentes que eu não me dava conta de que aquilo era um ato de machismo. Hoje, com todo esse diálogo, é possível refletir mais, e as adolescentes de hoje, certamente têm uma consciência muito maior do que é uma discriminação, machismo ou ofensa.

GC – Quais conquistas das mulheres você pode apontar no cenário musical?

AR – A mulher conquistou o espaço de fazer a coisa acontecer independente dos perrengues que ela tenha que conciliar. O avanço das mulheres em outras áreas também trouxe avanços para a área artística. Com a divisão de tarefas, a mulher tem melhores condições para se dedicar ao estudo de um instrumento, para se dedicar à arte e à música como uma carreira, como uma profissão. Há várias frentes de mulheres feministas que usam a arte para dar seu recado e trazer outras mulheres para o entendimento da realidade. Muitas mulheres têm condições de ajudar outras mulheres, fazendo-as perceber que elas não precisam enfrentar determinadas situações sozinhas. A arte tem esse papel: nós, mulheres, estamos cada vez mais nos unindo em um projeto de comunicação por meio da arte, de dar nosso recado usando a música, a poesia, a fala, a escrita, é a nossa voz ecoando cada vez mais.

Brincadeira de criar canções

Foto: Anderson Moura

GC – Fale sobre sua carreira, seus trabalhos lançados anteriormente:     

AR – Tenho uma carreira consolidada na área da educação musical. Logo depois de me formar como bacharel em piano, ingressei no curso de pós-graduação em educação musical, período em que participei de diversos cursos com importantes educadores de níveis nacional e internacional. Comecei a dar palestras, workshops e treinamentos para educadores de diversas partes do Brasil.

Meu primeiro trabalho, o EP “Meu Ego”, foi lançado em 2017. Em 2019, lancei o disco “Passo”. Já me apresentei em diversos festivais de música pelo país, com um repertório de releituras de músicas consagradas da música brasileira e trabalhos autorais.

GC – A pandemia despertou na Aline compositora momentos de verdadeira inspiração. Fale sobre as canções criadas para o novo EP Conecte-se:

AR – “Exílio”, “Conecte-se” e “Desvolta” são canções compostas durante a quarentena em 2020, músicas que retratam um momento de intensa conexão pessoal e artística. Costumo dizer que quem tem a música nunca está sozinho. E embora eu respire música desde a minha infância, eu pude perceber isso de maneira muito mais intensa no período de isolamento. Estive sozinha na maior parte do tempo e aproveitei esse momento de introspecção para imergir nesse universo que me encanta, me traz equilíbrio emocional e muito prazer.

Os cursos e os exercícios que fiz foram essenciais ao processo de composição, um mergulho profundo dentro de mim mesma para encontrar minhas próprias emoções. Diante desses exercícios, sobretudo o de abrandar o coração perante os mais diferentes conflitos emocionais, nasce a primeira canção do EP, “Exílio”, e ela veio como um presente, comecei a compor em uma determinada noite e no outro dia ouvi e ela estava pronta”. “Conecte-se”, canção que dá nome ao EP, é a música mais intensa que já compus até hoje. A primeira parte foi composta em novembro de 2019 após uma experiência de conexão pessoal e espiritual, e ela ficou martelando em mim, ela falava comigo como se me pedisse para ser ouvida, a canção me pedia pra nascer, e todos os dias, mesmo executando outras atividades, ou na hora de dormir, eu pensava em cada frase, cada palavra e cada cadência que eu queria para ela. Nessa brincadeira um tanto séria de praticar e criar canções, nasce “Desvolta”, música que representa a forma de comunicação direta com o coração para que seja possível afastar o medo, despertar coragem. Eu troco facilmente qualquer lazer do final de semana para estar com meus instrumentos, e foi justamente em um domingo de isolamento que desliguei todos os equipamentos que pudessem me distrair, peguei o violão e compus “Desvolta”. A palavra que desperta curiosidade no ouvinte, sugere na verdade, voltar de onde está, por isso a brincadeira com a palavra “Desvolta” (volte pra mim). Esse recado é também para o coração, que tem medo de se entregar e acaba voltando das eventuais entregas, e “Desvolta” é um pedido ao coração para que ele siga firme diante de suas emoções.

GC – Você acredita que uma formação sólida pode direcionar e determinar a carreira musical?

AR – Sempre que nos propomos a fazer algo, é necessário que tenhamos técnica e embasamento. Particularmente, procurei me aperfeiçoar ao máximo para melhorar meu desempenho nas áreas em que atuo, tanto na performance, composição ou execução de uma peça, quanto na área da educação, na qual estou sempre dedicada a estudar a técnica, teoria musical, escalas, bagagens extremamente importantes. Quando temos certas ferramentas, conseguimos encurtar caminhos e ter mais autonomia para depender menos de outras pessoas, aumentando as chances de realizar e alcançar aquilo que desejamos.

GC – Quais alternativas você encontrou para que a Projeto Sonoro pudesse enfrentar esse momento de pandemia?

AR – Podemos olhar para os problemas com pessimismo ou pensando em alternativas. Assim que eu soube que teríamos que fechar a escola, mesmo sem ter a exata dimensão do tempo que ela ficaria fechada, eu sentei em frente ao computador para pensar em várias estratégias para que a gente não deixasse a peteca cair. Pesquisei e assinei a melhor plataforma para vídeo chamadas, intensifiquei as reuniões pedagógicas com os professores, começamos a gravar vídeos e migrar os alunos para o ambiente online. Alguns pararam; outros, conseguimos manter, e há também outros que se matricularam, então, a escola conseguiu expandir seu atendimento para pessoas de outras regiões do Brasil, já que agora contamos com recursos online. Motivados, os professores continuaram a incentivar seus alunos a continuar estudando, mesmo com a pandemia. Apesar de provisório, o uso de recursos online para elaborar as aulas tornaram-nas excelentes, pois agora as aulas são gravadas, os professores e alunos podem revisitar e aprimorar o conteúdo, que fica disponível para os alunos poderem assistir quantas vezes quiserem. Quem ficou percebeu que a qualidade da aula se manteve. Além disso, fizemos encontros online pela plataforma Zoom, lives no Instagram com os alunos, promovemos shows com sorteio de brindes, e eventos em parceria com as empresas Michael e Montreal Music Shop Guarulhos, ou seja, estamos sempre inventando coisas.

Foto de capa: Patrícia GS

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