Arte por demanda
por Vitor Souza
Durante a pandemia muitos brasileiros encontraram nas artes uma grande aliada para manter sua sanidade mental. Em tempos de distanciamento social, não importa se você vive sozinho ou acompanhado de uma grande família, depois de um ano, é quase certo que mecanismos novos, como as lives via streamig, ou antigos, como as maratonas de seriados e mesmo os programas de TV, devem ter se tornado comum e permeado o tempo de lazer e reflexão.
Mas tem algo que vai muito além da tela mudando no modo de consumir arte. A grande maioria das pessoas, mesmo em isolamento, se depararam com mecanismos já conhecidos como o rádio, a televisão, o livro impresso. No entanto, as redes sociais e demais mecanismos digitais permitem que o público possa chegar muito mais distante e viajar até mesmo no tempo para garantir total controle do que quer ou não ver.
Da mesma forma, o artista que “sempre foi aonde o povo estava”, se viu impedido de ir, e ainda assim, à distância, se conectou geral. Bate-papos, composições novas, parcerias, plataformas colaborativas para escritores, espaços culturais intensificaram a digitalização de seus acervos, criaram passeios virtuais por suas galerias e espaços arquitetônicos. Muito, mas muito conteúdo mesmo, foi gerado ao longo dos últimos 12 meses.
O Poder da Escolha
Coube ao público ir atrás de muito do que não pode consumir nos últimos tempos. Seja por opção ou por proibição, foi possível acompanhar séries, temporadas, filmes, lives, lançamentos em diversos meios.
Com tudo parado, dos festivais às telenovelas, tornou-se comum ver os bastidores dos artistas enquanto transitávamos em produções que há muito vinham sendo produzidas e que muitas delas, ninguém ouviu.
E nesse meio tempo, uma rede importante de informação foi sendo gerada. Youtube, Spotify, Deezer, Netflix, Facebook e Google foram conhecendo cada vez mais (até melhor do que nós mesmos) as nossas opções e gerando cada vez mais informação para que artistas e empresários tomassem decisões em relação ao avanço do mercado cultural.
A livre produção artística
Paralelo aos hábitos de consumo cultural veio a livre produção artística. O distanciamento impactou diretamente nos eventos ao vivo e na criação coletiva como o audiovisual, as artes cênicas, os shows – claro, sempre pensando ainda com a cabeça tradicional. Entretanto, isso não impediu que esses agentes buscassem novas formas de criar.
A inovação tende a surgir sempre em espaços de escassez, onde há grande dificuldade de se manter as coisas como estão. Do artista foi tirado tudo: palco, público, coxia… foi na criatividade que ele teve que se agarrar para manter sua arte em desenvolvimento.
Ainda é muito cedo para avaliar os impactos da produção artística durante a pandemia. Pessoalmente, espero que tenhamos uma nova Semana de 22, mais periférica e diversa, mas que possa romper conceitos estéticos atuais, influenciados por dois anos de isolamento.
Estourando bolhas
A conexão cultural fala muito do nosso desejo de pertencimento. O isolamento certamente nos obrigou a nos conectar com verdade naquilo que nos importa. Talvez venha da sua ancestralidade a busca por referências que hoje você se dedica. Outros podem estar interessados em aprofundar uma linha que não se enquadra mais em rótulos que já foram usados.
Interessante que as novas curadorias digitais transitem por esses universos transversais. Músicas para trabalhar, correr, fazer luau, ou mesmo os filmes que vão aparecendo com divisões como questões sociais, empolgante, baseado em livros, entre outros. Os gêneros foram ampliando suas barreiras e percebendo similaridades que antes estavam escondidas.
Tanto para artistas quanto para o público isso passa a ser uma grande possibilidade de ampliar suas referências. Ao artista, maior liberdade de pensar sua arte e encontrar conexões que antes dependiam de um intermediário formal (mídia) ou informal (boca a boca).
E para o público essas transições vão aumentando seu repertório, desconectando-se das cansativas listas Top 10, pelo menos se assim preferir, uma lista real dentre os mais assistidos e segmentados na sua região, ou em todo o mundo.
Antes que eu me esqueça…
Fôlego aos gestores – O Governo Federal anunciou nesta última semana a prorrogação para entrega da prestação de contas para estados e municípios da Lei Emergencial Aldir Blanc, passando a vigorar o prazo de 31 de dezembro. Cabe ainda aos estados e municípios ajustarem suas leis e decretos caso seja necessário.
Aldir Blanc 2021 – Em audiência pública esta semana na Câmara dos Deputados, diversos outros pontos foram apresentados ao Secretário Especial de Cultura do Governo Federal, Mario Frias, dentre eles a extrema necessidade de uma nova edição de uma lei emergencial, vista a permanência do cenário pandêmico. Recomendo que acompanhem mais sobre o tema clicando aqui .
Links – Toda terça-feira um convidado diferente sugere quatro links aqui na Guarulhos Cultural, mostrando o que merece destaque na visão deles dentro da cultura da cidade. Tenho achado peculiar como cada um toma a decisão e o caminho de suas curadorias – afinal, sempre é uma escolha. Convido você a conhecer os últimos e acompanhar, sempre às terças-feiras, aqui no site (SEGUE O LINK) e também no Facebook, Instagram e Pinterest.
A pandemia afetou as atividades culturais. Analisando os impactos do recesso sanitário, as medidas do governo para atenuar os efeitos da loucura epidêmica e os desafios que a cultura a partir de agora, é possível observar os impactos da crise em cada setor, avaliar a eficácia das ações emergenciais, e assim, apontar as mudanças que os períodos de confinamento social trazem para a área cultural, do funcionamento das cadeias produtivas às formas pelas quais as pessoas participam da vida cultural.
As inseguranças do setor cultural são enormes, tanto em termos das condições de trabalho, quanto ao investimento de recursos públicos. Resta aos trabalhadores da cultura lidar com todas essas fragilidades, e adequar a sua obra à “nova situação” para Cultura e Arte.
@macedoangelo