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CríticaOpinião

Cinema que me Representa: Linhas

Documentário do diretor guarulhense Gabriel Higa fala sobre motoristas, linhas e trajetos de ônibus que cortam São Paulo

Por Fernanda Carvalho

O documentário Linhas (Brasil, 2020, 15:38 min, livre) é um filme que fala sobre motoristas, linhas e trajetos de ônibus que cortam São Paulo. Um assunto que por muitas vezes passa despercebido por todos nós, mas Gabriel Higa percebeu o potencial que existe neste tema e extraiu o melhor dele discutindo os encontros e desencontros que acontecem nessas Linhas.

Com uma estética descontraída, o filme começa com o diretor Gabriel Higa fazendo uma ligação e conversando com funcionários da Via Sul, assumindo desde o início que não existe uma quarta parede. A narrativa propõe a aproximação do espectador com os entrevistados ao possibilitar que se faça a viagem de ônibus com a equipe de filmagem e com os transeuntes da grande megalópole: São Paulo. 

Estar disponível para falar de personagens do cotidiano e rostos comuns é um ponto muito importante deste projeto e o grande desafio, pois diariamente passamos por eles e nem percebemos quem são, quais são suas histórias e aspirações profissionais, conflitos e dificuldades encontrados no seu dia a dia. E é exatamente esse ponto do comum da não observação destes trabalhadores que causa uma quebra em nós, um novo olhar para os costumes diários e as relações robotizadas estabelecidas na cidade grande. Olhar para aquele que está ali construindo a história do país, possibilitando a locomoção de tantos e levando tantas vidas de forma segura em um trânsito caótico da capital de fato não é para qualquer um.

Os movimentos das câmeras e os cortes para os planos detalhes são como as linhas visitadas nesta gravação, movimentos que nos despertam para questões emergentes e importantes da sociedade, o transporte público que leva milhões de pessoas diariamente e que por muitas vezes apresenta risco físico e psicológico para quem conduz estes monstros de aço.

As condições reais do trabalhador são questões apresentadas através de um roteiro muito bem estruturado. Diante da pressão do ofício do motorista, as empresas pensam no lucro e não enxergam as pessoas que estão ali, as ligações que estes motoristas estabelecem com os passageiros que levam nos gigantes monstros de aço que dirigem. O cuidado, a atenção  a paciência, o respeito que estes profissionais têm e a responsabilidade diária não são levados em conta quando a empresa precisa cortar as despesas.

Pontuo como uma audácia este roteiro o fato dele falar dos comuns e do conhecido do trabalhador, a luta por uma vida justa e, por isso, Linhas muda nossas percepções do que está calcificado em todos nós, a falta da empatia e os rompimentos com o que é ser humano em nós e este filme nos faz olhar e resgatar a nossa própria empatia.

Toda construção da obra está em seus detalhes sutis e, assim, se dá o tratamento de imagens e cores, paisagens e uma fotografia que nos guia em uma grande reflexão social e que nos posiciona em um lugar de decisão sobre como queremos continuar a olhar para o comum.

Assista:

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