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Opinião

Guarulhos não é um celeiro Cultural

Na coluna Cleóptero Multimetrificado de hoje, convido-os a uma breve reflexão sobre o discurso repetido continuamente de que, talvez, o discurso de Guarulhos ser uma cidade dormitório não seja uma mentira que nós resolvemos acreditar

Por André Bizorão

Aonde quer que eu vá, aonde quer que uma conversa se enverede pelas trilhas da arte e da cultura com alguém dessa cidade, é comum sempre ouvirmos alguém soltar a frase: “Guarulhos é um celeiro cultural”. Eu que sou muito apegado à força das palavras, ao que elas querem dizer ou, nos fazer sentir, primeiro achei a frase curiosa, mas depois de tanto ouvi-la, percebi que algo nela me incomodava, então passei um bom tempo refletindo tanto sobre o incomodo, quanto o porquê dele existir.

O primeiro paradigma foi investigar se o que me perturbava era a comparação com o rural, o que logo caiu por terra, pois justamente essa cultura da terra, do caipira, do rústico e do popular, é aquilo que eu considero matéria-prima da minha pesquisa, da minha arte e da minha vivência enquanto comunicador, então, fui mais profundo nessa pergunta: “Por que Guarulhos não é um celeiro cultural?” E aí, vamos recorrer a uma breve etimologia da palavra “celeiro”, vamos recorrer então ao dicionário:

Celeiro – substantivo masculino: 1. construção rural onde se juntam e armazenam cereais, forragem ou palha; paiol, tulha.

2. depósito de provisões, mantimentos; tulha. Definições de Oxford Languages.

Pronto, descobri o que era! O meu problema não era diretamente com o celeiro e sim, com a comparação descabida que a arte guarulhense recebe ao ser associada com o local onde se guardam provisões, a nossa arte não deve ficar guardada e nem protegida, ela deve explodir cada vez mais como um constante “Big-Bang”. Talvez possamos refletir brevemente sobre o discurso repetido continuamente de que, talvez, o discurso de Guarulhos ser uma cidade dormitório não seja uma mentira que nós resolvemos acreditar.

Voltando para a cultura, veja o quanto a classe artística pulsou tão lindamente nesse desafio de sobreviver à pandemia, graças, é claro, à Lei Aldir Blanc, que possibilitou um respiro aos artistas e a fé de que sendo fomentados, os artistas conseguem dar vida àquilo que fica limitado ao imaginário por falta de dinheiro. Aí vem a pergunta comum de quem quer saber tudo sobre o fazer cultural: “Então, quer dizer que o artista só faz se tiver dinheiro?”. E a resposta é não, mas deveria ser sim! Mas eu vou guardar pauta para os meus próximos textos, aguardem…

Então, esse mesmo detentor de todo conhecimento sobre tudo pode estar torcendo o nariz e perguntando: “Se Guarulhos não é um celeiro cultural, o que é então?”

Quando eu entrei em uma universidade depois de ter saído do Ensino Médio há 10 anos, percebi que esse intervalo havia me possibilitado desenvolver a percepção do quanto eu era privilegiado de estar ali, do quanto, mesmo cansado, exausto depois de um dia inteiro dentro de uma sala de aula, deveria honrar a chance de estar em uma universidade estudando Teatro, quem diria… E foi na primeira aula de Sociologia do professor Douglas que eu entendi o porquê se chamava Universidade, ele explicou tão brilhantemente, que faço questão só de trazer para cá o fragmento que se referia ao conceito de “Universo”, por conta da variedade, diversidade e convergência de tantos cursos e pesquisas opostas umas às outras. Então…

Guarulhos não é um celeiro Cultural porque o é, um Universo Cultural!

Um universo tão brilhante, tão cheio de astros, mistérios, riquezas… Onde olharmos veremos violeiros, circenses, escritores, poetas, artistas visuais, atores, palhaços (aqui eu me permito retira-los da categoria circense, porque Guarulhos tem uma forte veia dos palhaços conectados ao Teatro).

Eu espero, torço e batalho para que possamos ver esse céu cada vez mais límpido, aberto sem estar encoberto de nuvens, e que a visão de todo guarulhense possa vislumbrar um céu tão brilhante e lindo, quanto aquele que vemos ao estarmos num ambiente rural, quiçá recostados à porta de um celeiro!

2 thoughts on “Guarulhos não é um celeiro Cultural

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