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Hélio Lima Companhia faz releitura contemporânea de um dos ballets mais importantes do século XIX

Com regência de Kevin Camargo e corpo artístico da Hélio Lima Companhia, o espetáculo conta com a expertise de artistas negros, Pretah Thaís na produção, iluminação de Felipe Galvino, cenografia de Ailton Diller e figurinos de Karine Barbosa.

Por Carla Maio

Recontar, reimaginar uma história que já existe, trazendo-a para os tempos atuais. A releitura de A Sílfide, espetáculo que será apresentado pela Orquestra Jovem Municipal de Guarulhos e a Hélio Lima Companhia no dia 16 de abril, domingo, às 19h, no Teatro Adamastor, em Guarulhos é fiel às estruturas clássicas, sobretudo no que diz respeito ao desenvolvimento das coreografias nesta produção contemporânea.

Icônico, A Sílfide tem grande relevância para o universo da dança porque marca o nascimento do período romântico de forma exacerbada. Com mais de 190 anos, esse foi o primeiro ballet apresentado em um teatro. Além da sapatilha de ponta usada pelos bailarinos, a obra traz ainda o tutu romântico, que se tornou símbolo da bailarina clássica. Mais que o uso dessas marcas de um período, o lirismo, o romantismo, o apreço do homem pelo lugar do sobrenatural e a busca idealizada pela mulher perfeita marcaram sobremaneira A Sílfide, e serviram como base para a montagem de outros ballets clássicos como Gisele, La Bayadère, entre outros.

O professor e coreógrafo Hélio Lima, responsável pela releitura contemporânea de A Sílfide, conversou com a Guarulhos Cultural e detalhou os meandros da nova montagem. Com regência de Kevin Camargo e corpo artístico da Hélio Lima Companhia, o espetáculo conta ainda com a expertise de artistas negros, Pretah Thaís na produção, iluminação de Felipe Galvino, cenografia de Ailton Diller e figurinos de Karine Barbosa.

A adaptação musical é dos os compositores Alexandre Daloia e Jackson Frank, que recriaram com muito respeito a composição de Jean-Madeleine Schneitzhöffer, de 1832, para problematizar o significado dessa obra e formato para os tempos atuais.

Experiência única

“A Sílfide foi o primeiro ballet clássico que assisti, quando tinha entre 16 e 18 anos. Eu já dançava há oito anos e tudo aquilo foi muito significativo para mim, eu nunca havia visto nada assim, ao vivo. Aquilo me pegou, sou apaixonado pelos chamados Les Ballets Blancs, ballets nos quais as bailarinas dançam o segundo ato todas de branco”, conta o coreógrafo.

Sobre a importância de realizar esse ballet com a Orquestra Jovem, Hélio Lima enfatiza tratar-se de uma experiência única. “Como coreógrafo e diretor, acredito que essa combinação é extremamente importante, pois nos permitiu construir juntos e reimaginar esse ballet com o maestro Emiliano Patarra, o regente Kevin Camargo e os compositores Alexandre Daloia e Jackson Frank responsáveis pela adaptação musical. É bastante relevante mostrar que a cidade de Guarulhos tem o poder de montar algo forte, poderoso e monumental, tanto por seu figurino, cenografia, iluminação quanto pela competência e qualidade do corpo artístico”, endossa o diretor.

Durante sua jornada na dança, Hélio manteve em mente o desejo de repensar esse e outros ballets clássicos, dos quais confessa verdadeira paixão. “Quando recebi o convite do maestro Emiliano para realizar a montagem de um ballet com a Orquestra Jovem, logo pensei: tem que ser A Sílfide. Essa obra tem todo um carinho e carisma e a decisão de fazê-la passa pelo desejo de uma criação contemporânea, um universo da dança onde sempre vivi, onde sempre estive. A ideia de fazer uma montagem próxima da realidade da sociedade, desse ambiente moderno no qual vivemos, faz com que as pessoas se aproximem da história e de sua beleza. Nessa nova montagem, o público não verá pessoas sobrenaturais; elas assistirão mulheres reais. Na história original, A Sílfide é um ser etéreo, que cuida de uma floresta, dos animais, das árvores e da terra. Nessa adaptação, a personagem é mãe, cuida da casa e das crianças, da terra que ela tem que arar, fala da mulher que sai de casa na madrugada para trabalhar e alimentar seus filhos, da mulher que é abandonada pelo marido e está sempre correndo contra o tempo para poder dar conta. A Sílfide clássica e a moderna são essas mesmas mulheres, uma pensada de forma romântica; outra, de forma contemporânea”.

Entre Sílfides e Marias

Quando começou a idealizar essa Sílfide moderna, Hélio contou com a ajuda do dramaturgo Alcides Vieira. Eles partiram da ideia de mulher romântica, considerando que o romantismo é pura tragédia e ninguém melhor que a mulher para retratar esse espectro. “A partir de um poema escrito Alcides, chamado Três (Ave) Marias, comecei a pensar nessa Sílfide que fossem essas mulheres, as Marias, que vivem histórias trágicas. Então, pedi às bailarinas da companhia que representassem com o corpo suas próprias histórias e a de outras mulheres como suas mães, tias, avós. E foi assim que surgiu a coreografia, a partir de movimentos como o ato de costurar, carpir, cozinhar, além de uma série de instrumentos que fazem parte dessa labuta diária como rastelos, vassouras, entre outros. Tudo isso dá a dimensão da essência do ballet original, em que diversas meninas dançam juntas e, assim, protegem-se umas às outras”.

Sem dar spoillers, Hélio conta que essa proteção não chega a uma delas, a Sílfide, e cujo desfecho se materializa na tragédia romântica. Nessa construção, a participação das mulheres foi essencial para a afirmação de questões pelas quais somente elas passam, tornando ainda mais real a releitura.

“Apesar da luta feminina, homens também estão lutando para alcançar esse lugar de respeito, por isso, os bailarinos também fazem parte do segundo ato para mostrar que homens e mulheres trabalham juntos e lutam para vencer a pobreza. Nesse sentido, o segundo ato quebra a nobreza, a pompa e o poder do primeiro, pois traz pessoas reais, abaixo da linha dessa nobreza e em situação de pobreza, lutando e trabalhando para sobreviver”.

A expectativa de Hélio Lima é de que o público possa ter essa compreensão, de que a reconstrução desse ballet tradicional nesse exato formato torne o espetáculo objeto de reflexão e debates, para que seja possível criar diálogos e encontrar respostas para questionamentos reais e problemas que enfrentamos no cotidiano.

Os ingressos gratuitos para o espetáculo devem ser adquiridos pelo site http://orquestrasdeguarulhos.com/ingressos. Iniciativa da Secretaria de Cultura, o espetáculo ficará disponível no canal do YouTube das orquestras de Guarulhos.

O Teatro Adamastor fica na Av. Monteiro Lobato, 734, no Macedo. 

Fotos: Tatiane Monteiro e Alcides Vieira

One thought on “Hélio Lima Companhia faz releitura contemporânea de um dos ballets mais importantes do século XIX

  • Cristina Fogliene

    Fui prestigiar, com meu esposo.
    Amei a apresentação primorosa e o cuidado com a encenação, figurino e o respeito à obra
    Parabéns e Sucesso!!!

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