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CríticaOpinião

Cinema que me Representa: Ela Volta na Quinta

Filme de André Novais Oliveira fala da crise amorosa de um casal de meia idade

Por Fernanda Carvalho

O filme Ela Volta na Quinta (Brasil, 2014, Minas Gerais, 107 min, 12 anos)  conta a história de um casal de meia idade, que mora no Estado de Minas Gerais e está em uma crise na relação depois de 38 anos de casados. Seus filhos André e Renato, dois jovens que estão iniciando a vida amorosa, sonhando com a casa própria, acompanham o processo dos pais e refletem sobre a crise.

No início do filme temos um álbum de família sendo aberto, fotos antigas revelam o início de um casamento de um jovem casal, logo somos tomados por imagens de crianças e entendemos de forma linear o desenvolvimento da relação. A trilha que nos conduz é um samba, que apesar de ser um ritmo extremamente feliz, traz em sua letra a tristeza de um homem que perdeu algo importante.

Iniciando pela história de Zezé e Alberto, temos um panorama do cotidiano e ao mesmo tempo de uma rotina que por muitas vezes nos é revelada de uma forma estática. A direção tem como roteiro um clichê do casal que passa por vários desafios na relação e que na terceira idade enfrenta o iminente divórcio, depois do desgaste dos anos. Porém, é escolhido um elenco que sai um pouco do que estamos acostumados, são atores não-atores, pessoas comuns que ajudam a contar a história de uma forma muito naturalista.

O diretor André Novais de Oliveiro, faz sua escolha estética, como sendo o realismo trazendo a atuação quase como um improviso, por muitas vezes nos envolve tanto que pensamos que estamos simplesmente assistindo à documentação da vida de duas pessoas reais. Mas ao mesmo tempo que as atuações são impecáveis em muitos momentos, algumas personagens não tem química, um risco assumido algumas vezes para quem trabalha com não atores, alguns movimentos e interações se perdem em cena e percebemos que é ficção.

A escolha das câmeras paradas, quase sem cortes de uma personagem para outra, traz um certo incômodo no início do filme, pois causa uma sensação de dilatação muito grande de tempo e espaço. E o incômodo persiste até aproximadamente 40 minutos de filme, quando a personagem dona Zezé fala com seu filho André sobre a história de seu avô, um homem sonhador, que passava dificuldades com seus 7 filhos, mas que nunca desistiu de seus sonhos; ela pede para que seu filho não desista do que acredita. Esse é um momento bem emocionante, que nos envolve e a partir daí, o enredo se desenrola e a história começa a se revelar de uma forma mais fluida.

Dona Zezé está doente e é uma mulher que sempre cuidou de casa e da família; porém, está cansada por vários sentidos da sua rotina, em uma viagem até outra cidade a história se apresenta mais e vemos os motivos dela desejar essa separação.

Um elemento que acredito ser o que mais me chamou atenção no filme é a trilha sonora, músicas escolhidas a dedo, incrível o poder que a trilha tem neste filme, nos direcionando para novas percepções e construindo assim novas narrativas de imagens.

A beleza de Minas Gerais é pouco aproveitada no filme, por falar de uma família que vive na cidade, não temos quase momentos com a natureza que para quem conhece o Estado sabe sobre sua beleza.

O desfecho do filme me pareceu um pouco óbvio, de fato gostaria de ver como Dona Zezé iria aprender a lidar com uma nova rotina.

Do mais, o filme é bem produzido, porém tem escolhas que podem não ser tão assertivas como direção de fotografia, que investe no feijão com arroz,  mas é admirável o trabalho da produção com o elenco e a trilha sonora.

Assista: https://www.itauculturalplay.com.br/

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